30.6.08

Mulheres de atos

Às vésperas de completar mil anos com uma população estritamente masculina, quatro moças chegam ilegalmente à península de Santo Atanásio



(Publicada orginalmente na Piauí 22. A versão orgininal, mais extensa e apimentada, pode ser lida aqui)

Pouco depois da separação formal entre a Igreja Católica Romana e a Cristã Ortodoxa, o governo bizantino em Constantinopla determinou, em 1060, que a península - salpicada por diversos mosteiros cristãos - onde se levanta o Monte Atos, na Grécia, fosse livrada de todas as fêmeas, a começar pelas da espécie humana.

A partir daquele ano, os mais de 30 mil hectares daquela terra verdejante foram consagrados à louvação da Virgem Maria. Nenhuma fêmea deveria competir com a mãe de Deus, segundo o decreto do imperador Constantino Monomachos.

Fosse lavadeira ou esposa de pescador, fosse égua, vaca, cadela ou cabra, foram expulsas da península. Como o decreto ainda vige, de feminino, lá, resta apenas a suposta mão direita de Maria Madalena, algumas gatas para conter a população de ratos (de ambos os sexos), passarinhas (por desobedientes) e galinhas (porque a gema de seus ovos é necessária na pintura de ícones - ou seria difícil demais identificar o sexo de cada pinto?).

Foi nesse cenário varonil que desembarcaram, no último sábado de maio, cinco imigrantes ilegais da Moldávia. Eram um homem de 41 anos e quatro mulheres na faixa dos 20. Como a península fica na União Européia, buscavam oportunidades, emprego, direitos.

Em três dias, haviam percorrido 900 quilômetros.

Primeiro, foram por terra até a Ucrânia. Depois, pagaram quatro mil euros a atravessadores que, pelo estreito de Bósforo, os levaram do mar Negro ao de Mármara. Ali, cruzaram o mar Egeu nos Dardanelos e, finalmente, chegaram à península do Atos.

Foram encontrados nos arredores do atracadouro do mosteiro Megisti Laura, o mais antigo e maior dos vinte da península, construído a partir do ano de 958 por Santo Atanásio, o atônita, que morreu octogenário quando um tijolo lhe caiu na cabeça. Eles se esconderam numa praia pedregosa para evitarem denúncias e deixaram para o dia seguinte a decisão do que fazer. Num outro lugar, não seria complicado se misturar à multidão. Não é o caso do Estado Monástico da Montanha Sagrada, designação oficial da península, que é habitada por pouco mais de dois mil monges de longas barbas e batas negras. No dia seguinte, duas das moças foram avistadas por monges, que avisaram o inspetor de polícia da cidade vizinha de Tessalônica, Stergios Apostolidis.

Não era a primeira vez que mulheres entravam no bastião ortodoxo. A península recebeu centenas de refugiados gregos de ambos os sexos quando de uma revolta, em 1770, e novamente meio século depois, durante a guerra de independência. Todas foram expulsas assim que o perigo passou. No século passado, suas praias também foram visitadas por Aliki Diplarakou. Metida num hábito de monge, a Miss Europa 1930 (perdeu nas finais do Miss Universo, realizadas no Rio de Janeiro) passeou discretamente pelos mosteiros sem que ninguém percebesse sua beleza de 18 anos.

Submetidos apenas ao ministério das Relações Exteriores grego, o estado monástico é extremamente cioso de seus costumes e domínios. Monges e governo, em toda a Grécia, vivem às turras, já que a Igreja Ortodoxa é a maior proprietária de terras do país. Os moradores de Skyros, por exemplo, estão em pé de guerra com a congregação do Megisti Laura por conta de um projeto milionário que prevê a implantação de mais de cem ruidosas turbinas de energia eólica na pequena e preservada ilha. Na própria península de Atos, houve escaramuças no início do ano, quando 500 moradores do balneário de Halkidiki, seis deles mulheres, entraram em atrito com a polícia. Numa manifestação, eles alegavam que os monges estariam a empurrar a fronteira da península para dentro de suas terras.

Assim como as guerras, os costumes e o ambientalismo, também a questão migratória chegou para perturbar a rotina de reza e expiação do enclave.

Todos os dias, cerca de 1 400 imigrantes entram ilegalmente na União Européia. Países do Mediterrâneo - Espanha, França, Itália e Grécia, principalmente - são os mais visados. Na outra ponta da equação há nações africanas, asiáticas e do Oriente Médio. Mas também vizinhos europeus com a economia em frangalhos.

Nos anos soviéticos, a Moldávia se tornou uma economia de médio porte, com uma boa produção de alimentos e um razoável distrito industrial, o de Transnistria. O regime sovié-tico começou a ser desmantelado em 1989, e dois anos depois o governo moldávio em Chisinau proclamou independência em relação a Moscou.

Em alguns dias, Transnistria deu vazão a aspirações nacionalistas e se separou da Moldávia, levando com ele todas as indústrias (boa parte produzia rifles Kalashnikov) e suas receitas. Orgulhosamente independente, sem saída para o mar e incapaz sequer de produzir parafusos e dobradiças, a Moldávia se tornou um dos países mais pobres da Europa.

Hoje, seu maior produto de exportação é gente. Homens fortes para consertar banheiros na França e lavrar campos na Bélgica, mulheres bonitas para atender pedidos em bares da Itália, dançar nuas na Espanha e se prostituir na Rússia, Kosovo, China e nos Emirados Árabes.

O grupo que chegou à ilha dos monges está longe de ser uma exceção. Um quarto da população economicamente ativa não mora na Moldávia. A maioria dos que saem é de mulheres - e pelo menos 25% delas deixaram filho para trás. Não é improvável, portanto, que o destino das quatro jovens encontradas em Atos fosse, ainda que não soubessem, um prostíbulo.

Elas estão na "idade de corte", no linguajar das máfias que fazem tráfico de prostitutas. Fazem parte de uma população de aproximadamente 150 mil jovens que organizações humanitárias acompanham, para evitar a prostituição forçada e os abusos físicos e psicológicos.

A Constituição grega traz duas provisões para as mulheres de Atos. A primeira determina que imigrantes ilegais devem ser detidos por quarenta dias, e em seguida deportados para seus países de origem. A segunda diz que mulheres que violarem a segregação do Estado Monástico da Montanha Sagrada serão punidas com até dois anos de detenção. Mas pelo menos desse último pecado, os monges que as encontraram decidiram perdoá-las.

28.6.08

"Pecado", "manipulação"

Essas foram duas das palavras usadas pelo crítico da Folha Ricardo Feltrin para falar de Personal Che em seu videocast semanal sobre cinema. Segue o texto completo:

"Esse filme [Personal Che] faz uma interpretação do chamado arquétipo Che Guevara em várias regiões do mundo. O único pecado desse documentário, se é que podemos chamá-lo assim, é um breve trecho dele que tem um viés muito manipulativo. Esse trecho leva o espectador a uma comparação inexistente sobre as bases de luta do guerrilheiro argentino e a aberração chamada Adolf Hitler".
O videocast, se alguém quiser ver, é o que segue abaixo.



Não estou de acordo em absoluto com a caracterização. Na verdade, acho-a ingênua, ainda mais levando em conta que Che também é comparado a Cristo, a califas árabes e a Robin Hood ao longo do filme. Mas que isenção tenho? Deixo, portanto, o julgamento para o leitor: abaixo está a parte a que o crítico se refere.


Nazis from Douglas Duarte on Vimeo.

Quem quiser se manifestar tem nesse blog um foro aberto. Isso inclui a Feltrin, que está convidado a embasar suas tão peremptórias 60 palavras com quantas outras quiser.

Viva o debate!

26.6.08

Adelante, compañero Darwin!



De uma marca de camisas. É.

23.6.08

Disseram por aí

Uma rápida repassada no que se disse sobre Personal Che nas últimas semanas:

• Na Folha (para assinantes), Pedro Butcher faz o devido paralelo entre a idéia do filme e as idéias do francês Roland Barthes:

"Se Roland Barthes (1915-1980) estivesse vivo e escrevesse uma atualização para seu indispensável "Mitologias", publicado pela primeira vez em 1957, certamente incluiria um capítulo sobre Che Guevara. O documentário "Personal Che" pode não citar Barthes diretamente, mas é uma minuciosa análise da construção de um mito contemporâneo à moda do semiólogo francês. De forma complexa e multifacetada, o filme do brasileiro Douglas Duarte e da colombiana Adriana Mariño percorre o mundo para investigar as várias 'releituras' sofridas pela figura do revolucionário argentino."
• O crítico Ricardo Calil arremata dois bons textos curtos sobre o documentário. No Guia da Folha, ressalta o "ângulo inusitado" escolhido pelo filme. No seu blog, expande o conceito:
"Com [seus] personagens, “Personal Che” poderia ser apenas uma reportagem jornalística competente e curiosa. Mas ele torna-se um belo documentário nos momentos em que os diretores desconstroem a visão dos entrevistados sobre Che. Como na cena em que eles dizem à camponesa boliviana que Guevara era ateu e materialista, o que provoca um silêncio interminável. Ou quando mostra fotos de Che morto ao taxista cubano que só conhecia sua imagem de guerrilheiro destemido. Nesses momentos, “Personal Che” alcança o que poucos documentários conseguem: dar a seus personagens uma nova compreensão da realidade e registrar o exato instante em que isso ocorre."
• No Estadão, Luiz Carlos Merten escreve:
"No filme, Che é ídolo tanto de camponeses bolivianos e de jovens que ainda sonham com a revolução quanto de skinheads que o comparam a Adolf Hitler. Mais do que revelar a verdade por trás do mito, Douglas e Adriana seguem o caminho inverso e exploram o mito por trás da verdade.
• No Globo, o bonequinho de Carlos Alberto Mattos, mestre do obrigatório DocBlog, aplaude de pé e afirma:
"Muitos filmes já foram feitos sobre o mito Che Guevara, e isso faz arte do mito. Mas poucos têm a originalidade e o frescor desta atração."
• Nelson Gobbi, do JB, deu matéria e resenha sobre o filme. Nessa última, diz:
"O grande mérito de Personal Che é deter-se na imagem [de Che] e suas incontáveis variações, passando ao largo da história do guerrilheiro. Dessa forma, a dupla mostra como ela é apropriada em várias partes do mundo. (...) Evitando manipulações, o documentário registra a história sendo reescrita diariamente.
• Já para Alysson Oliveira, da Reuters, o mérito do filme é "levantar o debate e não se preocupar em desvendar Che Guevara":
"O que o filme nunca se propõe é desmistificar a figura de Che. Pelo contrário, os diretores trabalham questionando as imagens conhecidas e introduzindo algumas novas -- como um musical libanês que conta a vida do guerrilheiro, ou um político de Hong Kong que só usa camiseta com a foto de Korda, entre outros, ampliando o leque da discussão."
• Em outros lugares, Geo Euzebio, do CinePlayers, se pergunta "Como pensar sobre um símbolo que deixou de ser homem?" e me questiona a respeito da já famosa "pergunta do ateu"; Olívia Mendonça, d'O Dia, detalha os bastidores do filme; a Zé Pereira e a RollingStone comemoram a (breve, é verdade) carreira que Che deu nos blockbusters hollywodianos; Amanda Lourenço, da Revista de Cinema, diz que o doc "prova que Che Guevara ainda vive nos dias de hoje"; e finalmente o bizarricérrimo site da Agência FM Network - Notícias do Mundo crítica o filme por "manter a homossexualidade do médico-terrorista intocada".

O que dizer? Se soubéssemos que ela existia podíamos até tentar tocá-la!

Adendo posterior: Inadvertidamente não incluí a crítica de Luiz Zanin Oricchio que acompanhou a matéria do Merten, no Estadão. Um pedaço:
"A dupla não teme confrontar a beata que acende uma vela para o Che com a revelação de que o revolucionário era marxista e ateu. Ao skinhead neofascista, revelam, como se isso fosse necessário, que o Che era o modelo acabado de homem de esquerda. Dessas dissonâncias entre o que era o homem e no que se torna a lenda, nasce a riqueza contrastada do filme."

16.6.08

O herdeiro



Faz mais de um ano que encontramos (eu e Adriana Mariño) Jon Lee Anderson, biógrafo de Che Guevara e repórter da New Yorker. Pois bem: naquela época, tomando um café atrás do outro pra espantar o sono e o frio bogotanos, ele já nos contava da reportagem que preparava sobre Hugo Chávez havia alguns meses. Saiu só agora.

O perfil que havia feito anos antes daria motivo suficiente para o venezuelano querer seu fígado. Quando nos encontramos pela última vez, a reportagem ainda tinha foco incerto. Poderia ser sobre sua influência sobre a esquerda do continente. Ou sobre como seu estilo barulhento estava incomodando os vizinhos (falo de Lula aqui, mas não só dele). Ou apenas sobre como Chávez tenta se tornar um estadista fora das fronteiras venezuelanas. Parece que foi esse o trilho da matéria que acaba de sair. Já tenho o que ler hoje.

Pós post: Anderson fala de Chávez e América Latina num video do Frontline Club.

Assassinas!

A Floresta da Tijuca caiu nas mãos de alienígenas



(Publicada originalmente na Piauí 21)

"Olha que tristeza!", diz o ecólogo Rodolfo Cesar Real de Abreu, apontando uma árvore que, para os desavisados, não passaria de uma jaqueira. Por sinal, uma bela, frondosa e inofensiva jaqueira que até daria para chamar de alegre, caso existisse uma classificação botânica para o estado de alma das plantas.

Mas Abreu não deixa por menos. Dá umas pancadinhas no tronco, avalia as frutas, examina a folhagem e, com um travo de melancolia, volta ao ataque: "Eu fico triste de ver isso. Acho que é a mesma sensação de quando o médico descobre um câncer no corpo do paciente." Para ele, não há tanta diferença assim entre um pé de Artocarpus heterophyllus e um daqueles tumores igualmente impronunciáveis que crescem na sombra, ocultam por muito tempo os seus sintomas e só dizem a que vieram depois de atingir proporções letais.

A jaqueira, em seus primeiros tempos, também foi assintomática. É uma imigrante. Veio da Índia com os colonizadores portugueses, que antes de aportar no Brasil se aclimataram aos trópicos na África e na Ásia. Em menos de 200 anos, a árvore indiana estava solidamente enraizada aqui, parecendo brasileira da gema, nascida e criada no clima quente e úmido do litoral baiano. Acabou desembarcando oficialmente no Rio de Janeiro cinco anos antes da família real.

É invasora por natureza. Mas só na virada do milênio virou inimiga, depois que um censo vegetal do Parque Nacional da Tijuca revelou a presença de jaqueirais quase homogêneos na floresta urbana que os cariocas, com certa complacência, chamam de "mata atlântica". Há pontos onde se contam 200 jaqueiras por hectare. É jaqueira à beça, mesmo para os padrões de uma reserva florestal ameaçada de invasão por treze favelas.

Dois engenheiros florestais - Luiz Fernando Lopes e Henrique Guerreiro - deram aos administradores do parque a receita para botar a jaqueira no devido lugar, ou seja: sob a hegemonia das árvores nativas. O remédio que recomendaram parecia simples e discreto. Cortava-se, com um facão, um anel de 15 centímetros de largura ao redor do tronco, secionando os vasos por onde corria a seiva entre as raízes e as folhas; a árvore morreria aos poucos, de inanição, e viraria um toco inerte da maneira mais natural possível, sem a estridência das motosserras. Tudo no melhor figurino do manejo florestal.

Assim foi. Mas, há dois anos, quando o programa já havia anelado mais de 2 mil árvores ainda jovens e extirpado cerca de 42 mil mudas, entraram na briga os defensores das indefesas jaqueiras, denunciando o extermínio como crime ambiental. Não adiantou alegar que a Artocarpus heterophyllus não é nativa. Ela se adaptou tão bem por aqui que, no século XVIII, um botânico a classificou como Artocarpus brasiliensis. "O fato de se encontrar também na Índia não significa que ela não seja brasileira", argumentou Flávia Tavares, artista plástica e defensora intransigente do vegetal imigrante. Na condição de vizinha das jaqueiras na Floresta da Tijuca, Flávia levou o caso a um blog na internet, como tema de debate, e ao Ministério Público, como ação civil pública.

De lá para cá, a febre da indignação popular amainou. O domínio das jaqueiras prossegue, devagar e sempre, e este ano, em seu louvor, já foram arrancadas 4 mil mudas. Mas a refrega de 2006 deixou em Rodolfo de Abreu o ressentimento contra elas, como se um pé de jaca, além de invasor, fosse capaz de fazer intriga contra a boa-fé dos ecologistas. Ele caminha por alguns minutos pela borda do Parque Nacional, no Horto. De repente, pára e comanda: "Agora que você já sabe identificar uma jaqueira, olhe em volta."

Olha-se em volta. Há plantas rasteiras e musgo no chão. Algum lixo também, mas felizmente pouco. O que há ali para achar estranho?

As jaqueiras. Só dá jaqueira. "Se a gente não fizer alguma coisa com essa peste, ela não deixa mais nada nascer", diz Abreu. Não é difícil suspeitar de onde vem tanta jaca. Cada fruta que se esparrama no chão explode em no mínimo 200 caroços. Em média, mais de 70% das sementes germinam, adubadas pela própria fruta em decomposição. A jaqueira é uma eficientíssima máquina de reprodução. Abreu suspeita que as mudas tenham propriedades alelopáticas, ou seja: impedem qualquer outra coisa de vingar.

"Estamos começando a testar a hipótese", comenta o ecólogo Daniel Raíces, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. "O mais provável é que se trate de uma guerra química. Algum componente nas folhas e nas raízes da árvore inibe o crescimento de outras espécies. Já medimos a quantidade de luz solar na base dos troncos de jaqueira e constatamos que ela faz mais sombra que a média das árvores de mesmo porte existentes na mata atlântica." Em suma: "É provável que seja uma combinação de tudo isso."

A jaqueira conta ainda com poderosos aliados na fauna. Não alimenta os pássaros, mas oferece banquetes para vários bichos, inclusive o Callithrix jacchus, um sagüi que veio do Nordeste para conquistar os morros do Rio de Janeiro. Trata-se do popular mico. De bigodes brancos e rabo listrado, parece feito sob encomenda para a vitrine de uma loja de brinquedos. Nem por isso convence a bióloga Helena Bargallo. "Ai, olha aqui essa foto: um mico agarrado numa jaca", diz ela. "Que horror! Esse bicho transmite raiva, toxoplasmose, febre amarela! Está dizimando os ninhos de aves ameaçadas dentro do Parque Nacional!"

Estragos semelhantes podem ser imputados aos macacos-pregos e aos quatis, que proliferam na Floresta da Tijuca como os micos nordestinos. Mas os macacos-pregos e os quatis são nativos. E para Helena Bargallo isso faz toda a diferença. O problema é explicar à opinião pública a conveniência de manejar o sagüi tal como se deve fazer com a jaqueira: matando quantos forem necessários para controlar sua população. "Mas ele é fofinho, peludo, tem um rosto como o nosso e vem pegar comida no batente da janela com o filhotinho agarrado nas costas", ela lamenta.

Ao expor suas idéias, gente como Helena Bargallo e Rodolfo de Abreu enfrenta a desaprovação até de colegas. Sentem-se vítimas de um paradoxo ambiental: para preservar a natureza, advogam a derrubada de jaqueiras e o abate de miquinhos. Não é à toa que, descendo do Horto para a cidade, Abreu não deixa passar em branco o toco na calçada onde alguém pregou um letreiro em favor da salvação do planeta: "Colabore! Deixe nossas árvores viverem!" No resto de madeira, ele reconhece os despojos de uma castanheira-do-maranhão, outra espécie exótica. E fecha questão: "Está vendo só? É duro, cara, é duro."

E seguindo com as apropriações...

Aí vai uma genial.

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12.6.08

Tá chegando a hora!


Trailer Personal Che from Douglas Duarte on Vimeo.

Personal Che finalmente chega às telas brasileiras. Sexta-feira, 13 de junho no Rio, dia 20 em São Paulo e em breve em outras capitais. O esquema de distribuição é de guerrilha, como não podia deixar de ser.

Ajude a gente a divulgar o filme! Discuta qual é seu Che no site oficial e no blog, envie o trailer para os amigos, baixe o cartaz, imprima e grude na sua rua, veja fotos de produção, remixe a música-tema do filme, participe da comunidade no orkut e leia mais a respeito das filmagens no press book. E entre em contato!

Aqui estão os links, se quiser espalhar por email:

site | www.personalche.com
blog | personalche.blogspot.com
trailer | vimeo.com/1160951
cartaz | www.douglasdm.com.br/veja/posterpersonalche.pdf
fotos | picasaweb.google.com/douglasdm/PersonalChe02
música | www.douglasdm.com.br/ouca/personalchemonareta.mp3
orkut | www.orkut.com/Community.aspx?cmm=36062170
pressbook | www.douglasdm.com.br/leia/personalchepressbook.pdf
email | personalche@gmail.com

Deu pra entender?

Há cerca de três semanas, fiz uma projeção de Personal Che para um pequeno grupo de convidados do Ibase. Ainda que o DVD do filme tenha dado problema (mídia demoníaca...), a conversa foi ótima. Aqui você pode ver trechos da entrevista feita pelo portal deles. Não sei se me expliquei bem, mas tentei.

Deixando Che para trás



Novidades em Castrolândia: o governo anunciou o fim do salário igual para todos. Num artigo publicado no Granma de ontem, o ministro do Trabalho, Carlos Mateu Pereira, afirmou:

"Sempre existiu uma tendência de que todos recebam o mesmo pagamento e esse igualitarismo não é conveniente. (...) O novo sistema deve ser visto como uma ferramenta para ajudar a obter melhores resultados produtivos e de serviços".
Pereira também chamou o sistema de paternalista. Pelas novas regras, trabalhadores poderão aumentar em até 30% seus rendimentos se produzirem mais.

O conceito de salário igualitário para todos e "incentivos morais" para a produção é obra e graça do nosso amigo Ernesto, que considerava incentivos monetários o grande erro da União Soviética e um entrave à criação do Novo Homem. Na época, Raú1 ficou do seu lado no debate.

9.6.08

Apropriando-se de Ernesto

A semana passada foi rica em termos de apropriações de Che. Fui rápido demais no gatilho e já saí publicando o Che Grifado de uma marca de pilot indiana. Se houvesse esperado, poderia engrossar o caldo com coisas saborosas que encontrei dias depois.

Para comemorar o 80º aniversário de nascimento do argentino, o Centro de Estudios Che Guevara, chefiado pela viúva de Che, Aleida March, lançou um site. Há diversos textinhos e áudios de e sobre o argentino, mas basicamente coisa conhecida e que não impressiona quem já leu um pouco sobre o homem (embora seja interessante notar como o texto de Frei Betto recruta Guevara para a causa ambiental). O que gostei mesmo no site foi a galeria de cartazes em homenagem aos 80 anos.

O site infelizmente não dá mais informações sobre quem são os autores, mas reconheci alguns nomes de cartelistas cubanos (Arnulfo Espinosa, Pepe Menéndez) entre eles. Fiz um favor ao leitor do blog e descontei todos os exemplos que caíram na tentação fácil de fazer um trocadilho entre aniversário e homenageado estampando "oCHEnta" em suas obras. Eram, acredite, muitos. A seguir, os melhores (clique nas imagens para ampliar).

O bom e velho conceito de que Che é algo como um super-homem fica claríssimo no trabalho de Eduardo Moltó. A boa nova é que alguns já usam de irreverência para lidar com o mito, caso de Fabián Muñoz, com um cartaz tão simples quanto potente. Como entender sua frase? Significa que o mito permanecerá jovem ou que a "geração Che" não faz mais parte do imaginário cubano?



Novos elementos entram na iconografia, sinal de que o mito ainda vai ganhar fôlego com a contribuição de milhares de artistas que buscam fazer coisas novas com as velhas imagens de Che. Dois dos exemplos mais interessantes para mim foram a pacífica nuvenzinha de Orlando García e a genial pegada de Eduardo García. Seriam irmãos?



Depois de anos sendo pacificada, como diz o historiador de arte David Kunzle em Personal Che, a imagem volta a se rearmar. O tema meio anacrônico ganha roupa modernosa e sutil no diseño y colores de José Pepe Menéndez e tem a dureza quebrada por Luis Noa pela menção ao amor que deveria guiar todos os revolucionários, nas palavras de Guevara (clique em ambos para ampliar os detalhes).



Embora um ou outro ainda apele às armas para celebrar o guerrilheiro, muitos preferem uma interpretação mais pessoal e livre. Rodney Ramos o viu colado à pele, enquanto Eduardo Marín fez de Che o insuspeito padroeiro dos designers mordazes. :-)



Já ia me esquecendo de outras apropriações. A dica veio num comentário deste blog e vale a visita: é o Che Feio, que reúne imagens horrendas do revolucionário bonitão. Antes que achem que eles são militantes anticomunistas, já aviso que os autores do site também tocam o Mickey Feio, blog cheio de imagens asquerosas do rato proto-imperialista dos neo-liberales Estúdios Disney. Abaixo, uma palhinha: o Che (muito!) feio de Ricardo Foganholo.

2.6.08

Fosforescente


O capitalismo (da Índia) faz alguma coisa interessante com o bom e velho Che.