30.11.08

Economia


Mas se só houver tempo para ver um conjunto de fotos, faça o favor a si mesmo de deixar as minhas para lá e dar uma olhada em fotos de verdade. Nessa galeria virtual há um pouco do trabalho de Graciela Iturbide, mexicana fantástica que descobri aqui (talvez seja a última pessoa no mundo interessada em fotografia a fazer isso, aliás) e que ganhou faz um mês o Prêmio Hasselblad.

Escurinho


Saiu uma galeria pequenininha das minhas fotos no Gawker! Aí vai uma que ficou de fora.

29.11.08

Prazer para nerds


O post é para agradar poucos, afinal a banda nunca foi muito popular: a (para mim) obscura revista musical JamsBio destacou um fã monomaníaco dos Beatles (um pouco pleonásmico isso, mas vá lá) para fazer um ranking de todas as canções da banda. Chamam a coisa de Playing the Beatles backwards – "tocando os Beatles ao contrário".

É o tipo de iniciativa que fracassa se o condutor não tem ao teclado a mesma coisa que os Beatles tinham na música: verve e conhecimento. É aí que o tal JBev mostra a destreza de um Ringo ao manejar um catálogo de 184 canções sacrossantas para muitos de forma apaixonada, informativa, franca e – aleluia – irreverente.

Ainda que o site diga que para muitos isso seria como escolher entre um filho e outro, a verdade é que quase todo verdadeiro fã da banda tem sua lista mental, ainda que não tão organizada ou consciente.

Todo mundo vai ter reservas em alguns momentos para dizer "é isso!" em outros, claro. É particularmente divertido quando a machadada parte em direção a alguma vaca sagrada (consigo ouvir gente irada gritando "Penny Lane em 140º!?") ou quando aparece alguma interpretação que você, beatlemaníaco de quatro costados e duas décadas, nunca tinha pensado ou não tinha dados para pensar. Quão sintomático é o fato de que I me mine tenha sido a última música gravada por uma banda terminada pelo choque de egos? Por que quando os quatro cantam em coro é a voz de Ringo que se sobressai? Por que Lucy in the sky é boa, ma non troppo?

Uma agonia é ver favoritas pessoais serem sacrificadas no altar de uma análise idiossincrática, mas quase sempre justa. Aconteceu comigo aqui, aqui e aqui, por exemplo. Um prazer enorme é ver algumas porcarias receberem a devida sova, como aqui, aqui e aqui. Outro é descobrir alguns detalhes pequenos e sublimes em faixas apenas medianas. E há a expectativa à medida que o topo vai se aproximando (já estamos no top 100 quando escrevo isso) para ver como suas preferidas estão indo. É viciante. Eu cheguei no meio, mas desde então volto ao site diariamente para um novo lote de cinco sentenças.

A idéia é tão boba quanto divertida. Mais ou menos como escrever uma música dizendo a um amigo "ela te ama, sim, sim, sim".

Fragmentos mexicanos


"Guey, tinha um lugar aqui perto onde a minha mãe falou que tinha José Cuervo barata..."

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"Tem a tristeza de não ter, mas tem a de ter, também".

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E um homem de chapéu marrom e camisa meio puída, que navegava, meio bêbado, as pedras do calçamento da praça aqui perto. Levava pendurado nas pontas dos dedos um LP fora da capa.

28.11.08

Uma letra depois da outra


Não sei quem disse que é sempre bom prestar atenção em como você vê o futuro pra ter certeza de que está conduzindo as coisas do jeito certo hoje. Talvez tenha sido eu mesmo. Me lembro desse personagem do filme "The Commitments", de Alan Parker, o suposto agente da banda, que ensaia para uma entrevista usando a ducha da sua banheira como microfone, todo besta, contando vantagem. Obviamente, a banda acaba mal na história (embora tenha me surpreendido agora ao descobrir que há atores do filme de Parker se apresentando ainda hoje, 17 anos depois do lançamento do filme).

Por que digo isso tudo, em mais uma das minhas digressões? Porque estou cheio de orgulho de ver na minha frente pela primeira vez a impressão, toda bonita na sua simplicidade, do meu primeiro roteiro de ficção. Ver as folhas de papel e suas linhas de Courier 12, já com suas devidas revisões, as primeiras de muitas, é quase tão bom quanto uma réstia de sol nesse México friorento (e não, não ligo para o brega da metáfora nesse momento).

Uma pilha de folhas de papel é uma ótima razão para estar feliz.

24.11.08

No teatro com Malkovich



Desde que chegamos fomos quatro vezes ao teatro. Primeira peça, udigrudi de um autor catalão, anárquica, mas chata. Segunda peça, de um estimado autor mexicano, para lá de pretenciosa. Terceira, um clássico popularesco com suas três mil e tantas apresentações, deu pra rir, mas era boçal quase sempre.

Não ajuda muito a reputação das artes dramáticas mexicanas o fato de que a melhor vista aqui é baseada num texto de autor americano, com o diretor aí de cima se comunicando com o elenco mexicano em inglês. É fantástica.

16.11.08

Pauta

"Vê-se um céu escuro, uma lua alaranjada, uma guarita de vigilância e dois postes acesos, cada um com sua nuvem de cupins e mariposas. Grades cinzas quadriculam a composição. No pé do quadro, uma frase, não se sabe se pintada na parede original ou se inscrita pelo próprio comandante na sua obra: “O moinho dos deuses... Mói lento!!”

7.11.08

Pauta

"Bom, eu acho que se a Saba vem pra perto de mim e começa a sacudir as orelhas e balançar a tromba quando pego o violão e toco Bob Dylan, Simon & Garfunkel, é porque ela está gostando. Herbívoros encaram o silêncio como sinal de perigo, sabe?"

6.11.08

Queda de avião mata ministro mexicano


© La Jornada

Saiu nova matéria para a Folha, sobre a queda de um avião aqui na Cidade do México:

"O México foi forçado a desviar sua atenção da vitória do democrata Barack Obama na noite de anteontem, quando um jatinho do governo federal caiu a poucos metros de um dos principais cruzamentos da capital do país, matando o secretário de governo (Casa Civil) Juan Camilo Mouriño, braço direito do presidente Felipe Calderón, além de uma peça-chave no combate ao crime organizado, o secretário para a reforma da Segurança, José Luís Santiago Vasconcelos."
O texto completo, para assinantes da Folha, está aqui.


(Agora que já passaram dois dias e matéria virou embrulho de peixe, segue o resto)

Até o momento foram confirmadas mais 12 mortes, seis delas de pessoas que estavam no lugar do desastre, e 12 feridos com queimaduras graves. Não há confirmação sobre as razões da queda; a hipótese de um atentado não está descartada.

O avião se espatifou pouco depois das seis da tarde numa zona movimentada e luxuosa da Cidade do México, as Lomas de Chapultepec, próximo ao entroncamento entre o Paseo de la Reforma e o Anel Periférico, ambos coalhados de automóveis na hora do rush. Ao cair, o avião explodiu, incendiando trinta carros e rompendo os vidros de diversos prédios. A queda agravou o trânsito já habitualmente caótico da capital.

Mouriño era o número dois do governo federal, assessor mais próximo e amigo pessoal de Calderón. Com apenas 37 anos, era um dos cotados pelo Partido da Ação Nacional para a sucessão de 2012 e o principal articulador no governo da reforma do setor petroleiro. Sua segunda pauta era a segurança.

Desde a posse de Calderón, em 2006, as estatísticas de assassinatos e seqüestros dispararam graças, segundo o governo, a uma política de enfrentamento. Mouriño e Santiago Vasconcelos eram os principais funcionários federais envolvidos no combate ao crime.

O governo informou que o avião voava em rota e altitude normais, ainda que excessivamente próximo de outras aeronaves. Ficou a apenas 4,5 km de um Boeing 767 minutos antes da queda, quando o normal é 6,5 km. Não houve nenhum aviso de emergência para a torre.

Especula-se que o piloto estivesse buscando refúgio da turbulência gerada pelo Boeing ou um ponto para um pouso forçado nos Bosques de Chapultepec, vizinho ao ponto de impacto. Peritos afirmam que sabotagens geralmente deixam um rastro de destroços até o ponto da queda. Nesse caso, o avião caiu inteiro, despedaçando-se apenas no chão.

O governo tem se esquivado das fortes especulações de que a aeronave foi alvo de uma sabotagem por parte dos "zetas", como são chamados os membros do Cartel do Golfo do México. Não seria o primeiro atentado contra Santiago nem a primeira ação terrorista do cartel.

Os "zetas" são acusados pelo ataque do dia 15 de setembro em Morelia, capital do Estado de Michoacán, em meio às festas da independência. Duas granadas foram detonadas na praça principal, matando oito pessoas e ferindo mais de 150.

Já Santiago foi alvo de inúmeros atentados na época em que era o czar do combate às drogas e sub-procurador geral da República, responsável por mais de uma centena de extradições de "capos" aos EUA. Teve a cabeça posta a prêmio: nada menos que US$ 5 milhões.

A estratégia do governo no momento é levar "zetas" e membros dos cartéis de Sinaloa e de Juárez à extinção mútua. Das mais de 4.600 mortes registradas esse ano, estima-se que perto de 4.000 sejam de soldados dos cartéis.

5.11.08

O foguete e os peixes



Leio hoje uma notícia que me deixa muito feliz. Cito da Folha:

"O território reivindicado por cerca de cem comunidades quilombolas de Alcântara. no Maranhão, foi reconhecido oficialmente pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Em relatório publicado ontem no Diário Oficial da União, o órgão federal delimita a área que era motivo de conflito com a Agência Espacial Brasileira, que mantém um centro de lançamento de foguetes no município. Parte do território em disputa seria ocupado pela Alcântara-Cyclone, a empresa binacional Brasil-Ucrânia para lançamentos comerciais de satélite. A companhia já tinha anunciado em agosto sua desistência de ocupar a região. Em comunicado à imprensa, o Incra afirma que as 3.500 famílias quilombolas que vivem hoje na região ficarão com uma área total de 78 mil hectares."
No fim de 2004 estive em Alcântara para fazer uma reportagem sobre a conflituosa convivência entre os foguetes e os pescadores quilombolas para a rede de TV japonesa NHK. Acabei escrevendo também uma longa matéria para o JB sobre o assunto, que me fascina até hoje. Nos anos 80, o governo relocou na marra vilas inteiras, criando uma paura coletiva em relação à base. Espero o reconhecimento do Incra acabe com o desentendimento entre pescadores e cientistas espaciais.

4.11.08

Adeus, caubói


© New Yorker

Tão importante quanto o (provável) começo de uma Era Obama na Casa Branca é o fim da Era Bush (esse, ainda bem, seguro). Nesses anos o mundo teve de se habituar a conviver com um vizinho forte e folgado. E a América teve de se habituar a ser desprezada não só por seus inimigos diretos, mas por quase todo o mundo.

Decidi aproveitar a oportunidade para escavar o pequeno baú desse blog, pôr online algumas reportagens que fiz ao longo desses anos (links simples) e adicionar alguns textos que acho fundamentais para entendê-los (links creditados). É uma retrospectiva de fundo de quintal, com tudo de parcial e pessoal que pode ter, tudo de bom e mau que isso acarreta.

Hoje é difícil lembrar, mas a eleição de 2000 era tida como algo desimportante. Ao contrário de hoje, o grande assunto não era o que faria esse ou aquele presidente, mas os defeitos do sistema eleitoral americano. É curioso ver como os entrevistados para essa matéria afirmam sem meias palavras que naquela eleição os americanos escolheram um presidente "de centro" e convocado a "governar pouco". Isso antes mesmo de se confirmar o resultado final. É curioso também ver como tudo parecia incerto naquele momento, um mês depois das eleições.

É igualmente interessante notar como Bush era um estranho ao establishment, um alien no sistema, uma mudança brusca da Era Clinton. Nossa visão sobre os americanos era diferente. A parvoíce de Bush ainda era vista como exceção e não regra. Nessa parcial, mas excelente matéria da Vanity Fair, Gail Sheely reconstrói a fabricação milimétrica do Bush propositalmente caubói/caipira.

Toda a conversa de "presidente desimportante" mudou, é claro, após os ataques de 11 de setembro, apenas alguns meses depois da posse. Era um sinal claro de que o anti-americanismo que ia se tornar regra nos anos seguintes já era professado por gente na frente de batalha, ex-aliados como Osama Bin Laden, um brilhante orador, ainda que, segundo alguns, estrategista de parcos resultados.

As especulações sobre o que seria a retaliação começaram minutos após o ataque às Torres Gêmeas. Naquela época, ainda se pensava se seria ao Afeganistão ou ao Iraque. Apenas depois percebemos que o plano era passar por cima do fato de que os bandos dos dois países não se bicavam e abrir duas frentes de batalha. A falta de lideranças alternativas e o excesso de candidatos ao trono eram patentes no Afeganistão. Já na época se questionava se não era melhor evitar a catástrofe humanitária que se seguiu e simplesmente "comprar" Bin Laden do regime talibã. A oferta que fizeram a Clinton, ao que tudo indica, ainda estava de pé na época da invasão, quando tive a sorte de conseguir a primeira confirmação oficial de que forças americanas e inglesas já estavam no país preparando clandestinamente a invasão. Na pressa de tantas análises e fatos, o furo acabou, justificadamente, passando despercebido.

Hoje o conflito se arrasta e o melhor retrato que conheço dele foi escrito por Jon Lee Anderson, da New Yorker. Aqui, ele fala dos problemas enfrentados pelo presidente do país, Hamid Karzai. Nessa reportagem, de como os talibãs têm ótimas razões para seguir lutando.

Apesar de muito cedo ficar claro que os Anos Bush seriam de guerra, houve quem quisesse indicá-lo – junto com seu fiel companheiro Tony Blair – ao Nobel da Paz. Logo ficou claro, contudo, que EUA e Inglaterra estava se preparando para o passo seguinte: tomar Bagdá. Chegar até lá custou uma montanha de mentiras, resumidas com competência por Craig Unger, da Vanity Fair. Apenas um ano antes, não sabíamos que Sérgio Vieira de Mello ia deixar seu cargo de Comissário para Direitos Humanos da ONU, para o qual acabava de ser nomeado, para morrer de forma estúpida em Bagdá, algo contado em detalhes por Samantha Power na New Yorker (e também na Piauí). Anderson fez a melhor crônica da guerra iraquiana, em diversos despachos que foram retrabalhados posteriormente em seu livro A queda de Bagdá. Aqui vão primeiro, segundo, terceiro e quarto. Igualmente incontornável é a reportagem de Seymour Hersh, na mesma New Yorker, sobre como o governo americano incentivou seus soldados a agir de forma pouco ortodoxa em busca de informações.

Mesmo antes das invasões, se especulava que as guerras desse século seriam lutadas de outra forma. Os EUA já tinham posto em prática em diversos países, especialmente na Colômbia, um modelo privatizado de combate. O que não sabíamos é a que ponto tanta instabilidade ia encher os bolsos de meia dúzia de empresas, como mostra Michael Schnayerson nessa reportagem para a Vanity Fair.

Realmente, difícil acreditar que tudo isso aconteceu sob a batuta do azarão que deixa o cargo – se tudo der certo – em 77 dias.

3.11.08

Bola de gude



Pelas vizinhanças mexicanas.

1.11.08

Diga "ômmmm"



Nada estranho que festivais de cinema tenham números músicais na festa de abertura. Nada mais apropriado, portanto, que o 1º Festival Internacional de Cinema Budista da Cidade do México tenha essa estranha bandinha de monges galupa tibetanos.

Espero que os filmes tenham mais suingue.