28.5.09

Finalmente, POA




Uma das grandes tristezas durante o lançamento oficial do Personal Che foi que não encontramos um espaço legal disponível pra mostrar o filme em Porto Alegre. A terra é suficientemente próxima a) da Argentina e b) da esquerda pra receber com algum calor o filme. O jejum indevido vai acabar semana que vem com uma pequena mostra de documentários que o Cine Santander (Av. Sete de Setembro, 1028) vai organizar lá. Além do Che tem muita coisa legal. Os horários:

• 3 e 4 de junho (4ª e 5ª)
15h Brizola - Tempos de luta, de Tabajara Ruas
17h Café dos maestros, de Miguel Kohan
19h Personal Che, de Douglas Duarte e Adriana Mariño

• 5 e 6 de junho (6ª e sábado)
15h La quimera de los héroes, de Daniel Rosenfeld
17h Contratempo, de Malu Mader e Mini Kert
19h Brizola - Tempos de luta

• 7 de junho (domingo)
15h Personal Che
17h Café dos maestros
19h Curtas de Gualberto Ferrari


PS: A foto do post foi tirada exatamente há três anos em Hong Kong, quando eu e Adriana Mariño estávamos ensopados até os ossos (e câmeras; a minha pifou) filmando a grande marcha organizada por Long Hair, uma das personagens mais carismáticas do filme. Dias loucos. Em 96 horas, mais da metade rodando sem parar, Long Hair participou de nove protestos, cinco sessões no parlamento e trocou de roupa umas duas vezes. Uma camisa de Che por outra, claro.

Chita, o imortal

O macaco do Tarzã ataca outra vez

(ilustração de Andrés Sandoval; publicado na piauí 32)

No dia 9 de abril, ao sentar-se à mesa do jantar, o macaco Chita se animou com o bolo coberto com marshmallow e chantilly. Era dietético, para diabéticos como Chita. Percebeu, em seguida, que não estava só. Na pequena sala branca, decorada por telas abstratas de sua autoria, havia mais de vinte pessoas - entre elas, repórteres de tevês americanas e alemãs. Chita não ligou para a tropa, assim como não deu muita bola para o cone colorido de papelão que vestia na cabeça. Chita estava acostumado a essas coisas. Com certa nonchalance, tascou uma dentada no doce, e o bote foi registrado instantaneamente por um sem-número de flashes. Era seu aniversário. O 77º.

Enquanto tratadores, cinéfilos e talvez até os chimpanzés do mundo celebravam esse feito de longevidade, o jornalista Richard Dean Rosen lamentava mais um ano de ilusões coletivas na história do cinema: "As pessoas precisam de ídolos. Eu mesmo ignorei, por um tempo, os indícios de que não havia um Chita original." Contratado em 2007 para escrever a biografia do primata, Rosen quase enterrou o mito. Antes de suas pesquisas, rezava a lenda que, em 1932, nos cafundós da África, Chita fora separado da mãe. Ainda bebê, migrara da Libéria com seu futuro tratador, Tony Gentry. Chegara aos Estados Unidos a bordo da Pan Am, companhia aérea à qual Chita teria sobrevivido com décadas de vantagem.

Aos 5 anos, já acostumado ao clima seco e temperado de Hollywood, Chita, que ainda se chamava Jiggs, teve sua grande oportunidade na terra do cinema: o convite para atuar num filme de Tarzã, ao lado do ex-campeão de natação Johnny Weissmuller. Como tantos atores que fazem sucesso em seu primeiro papel, Jiggs mudou de nome e passou a ser tratado de Chita. Era uma época de ouro para os primatas de Hollywood, que gozaram de prestígio até o final dos anos 40. Passados os anos, e descrente do futuro de Tarzã, Weissmuller abandonou a carreira de Rei das Selvas e foi vender piscinas pelo país adentro. A Chita restou o ostracismo que enxota dos estúdios os chimpanzés com mais de 10 anos, quando se tornam adultos, mal-humorados e perigosamente mais fortes do que os humanos com que contracenam, sejam eles Tarzã ou não. Passou a viver exclusivamente da caridade de Tony Gentry - que, ao adoecer, em 1990, passou sua guarda ao sobrinho Dan Westfall, também amestrador de Hollywood.

Na casa nova em Palm Springs, Califórnia, Chita e Westfall se deram bem. O novo agente diagnosticou seu diabetes, tratado, até hoje, com duas injeções diárias de insulina. Mudou-lhe a dieta, retirando a cerveja, o chocolate e os ovos com bacon que lhe serviram de combustível na ascensão ao estrelato e na conversão em americano da gema. E investiu na fama pregressa de Chita. Primeiro, erigiu uma estátua de bronze do macaco em seu jardim. Depois, transformou a casa em museu de ex-estrelas, batizada com a sigla CHEETA, juntando o nome artístico do chimpanzé - que por lá se escreve com "ee" em vez de "i" - com a razão social de sua empresa, a Creative Habitats and Enrichment for Endangered & Threatened Apes. Ou seja, "Habitats Criativos e Enriquecedores para Primatas Ameaçados & em Perigo".

Investiu, também, numa segunda carreira para o macaco. Chita é hoje um pintor de relativo sucesso no mercado de arte internacional, com cerca de mil obras espalhadas pelo mundo. "Umas 15 no Brasil", Westfall afirma. São quadros abstratos, algo simples e meio parecidos entre si, como convém à obra de um artista que encontrou seu espaço entre colecionadores e não pode sair por aí, inventando coisas que só servem para confundir os marchands. Oficialmente, a obra de Chita não é vendida. Mas o tratador aceita doações para a causa dos primatas criativos ameaçados ou em perigo. Cada tela sai em média por 200 dólares.

Sempre atento às brechas mercadológicas, em 2001 Westfall conseguiu que Chita, aos 69 anos, fosse reconhecido como o macaco mais longevo do mundo pelo Livro dos Recordes. E não foi só. Sendo um poço de idéias, certo dia, diante de uma livraria, Westfall teve outra inspiração. Se Arnold Schwarzenegger, Monica Lewinsky e Paris Hilton tinham suas próprias biografias, por que o seu primata não mereceria essa honra? Apostou numa autobiografia, escrita por ghost-writer, mas assinada por Chita. E convidou para a parceria literária com o macaco o jornalista nova-iorquino Richard Dean Rosen.

Rosen é um primata investigativo do gênero repórter. Bastou-lhe um mês de convivência com o tema para se intrigar com um detalhe do currículo de seu biografado. O primeiro vôo transatlântico havia ocorrido em 1927, no bimotor de Charles Lindbergh. "Me perguntei: será que em 1932, ano em que Chita chegara aos Estados Unidos, já havia vôos comerciais entre os dois continentes?" Rosen verificou. Os vôos tinham começado em 1939. Sete anos depois da decolagem de Chita para a fama.

E como explicar que o animal tenha aparecido jovem e garboso em Tarzã, o Homem Macaco, nos anos 30, e ainda em plena forma para contracenar com o ator Rex Harrison em O Fabuloso Doutor Dolittle, nos anos 60? Rosen investigou duas hipóteses - ou o chimpanzé mentia a idade descaradamente ou era um fenômeno de longevidade, mas não um grande ator aposentado. Armado com uma fotografia do perfil de Chita, que o identificava de maneira conclusiva pelas dobras da orelha, passou "horas, dias, semanas" procurando a estrela primata nos velhos filmes que tinham macacos no elenco. "Se ao menos eu conseguisse provar que o meu Chita participou de algum filme, um só já bastava..." Não conseguiu. A história do cinema não registrava um único fotograma com o seu Chita. Era preciso dizer o impensável: este Chita era um embuste.

Rosen marcou entrevistas com velhos amigos de Tony Gentry, o inventor do macaco e da história. "Eles chegaram a rir de mim. Não era segredo que Gentry às vezes aumentava as histórias." Concluiu que aúnica coisa que ligava Chita às estrelas de cinema era a idade indeterminada. O macaco poderia ter 74, 62, 61 ou, mais provavelmente, 49 anos - o que é uma complicação insolúvel para quem está às voltas com a biografia autorizada de uma lenda viva. Deu a triste notícia a Westfall que, inconsolável, desistiu do livro. Rosen acabou dono de "uma sacola de verdades que não interessa a ninguém". Muito menos a Chita, que não pensa haver vida sem bolo em festa de aniversário.

Desce!

Altos e baixos de uma classe obsoleta

(ilustração de Andrés Sandoval; publicado na piauí 32)

A argumentação até que é sólida: "Os elevadores modernos são projetados para o uso automático. Todo o bom funcionamento do sistema depende da não-interferência humana."?A justificativa do projeto de lei aponta que, do jeito que está, há um "aumento dos custos com a mão-de-obra" e também uma "diminuição da capacidade em, pelo menos, uma pessoa". Se algum leitor ainda não se deixou convencer, o documento dá o golpe de misericórdia, encerrando a prosopopéia com um argumento capaz de sensibilizar qualquer alma que já tenha perdido preciosos segundos à espera do proverbial passageiro Rexona: "A eliminação do atendimento automático" - em outras palavras, a presença do ascensorista - "provocaria, entre outras consequências, a demora no fechamento de portas para atender a retardatários visando a uma maior lotação antes de dar a partida."

É assim, com juízos técnicos, lógica cartesiana e português claudicante, que o projeto de lei nº 3738/2006, aprovado pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, vai em breve extinguir o cargo de quase 4 mil profissionais no estado. Adeus ascensoristas. Segundo o texto proposto, apenas os edifícios não residenciais com elevadores controlados à manivela - uma multidão, como se sabe - terão que continuar utilizando os serviços da classe. Para os outros, vai ao gosto do cliente. Ou do condomínio.

"Será que eles não ouviram falar em 'crise econômica' pra propor uma coisa assim numa hora dessas?", pergunta com indisfarçável indignação Máximo, ascensorista cujo nome não é este - a seu pedido, resguarda-se sua identidade para protegê-lo de represálias do condomínio no bairro do Flamengo, onde trabalha. Chegamos a este ponto. "Está todo mundo falando em política para gerar emprego e vem esse cara para cima da gente?", vitupera.

Esse cara, no caso, é o deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha, do psdb, ex-vice-governador de Marcello Alencar, ex-candidato a vice-prefeito na chapa de Fernando Gabeira, e atual corregedor da Assembléia Legislativa do estado. É dele o projeto funesto que feriu de morte o artigo da lei de 1991 que obrigava prédios não residenciais a utilizarem ascensoristas. Sem dúvida, 1991 foi o annus mirabilis desta classe nascida de mãos dadas com os arranha-céus. Naquele memorável começo de década, o então governador Leonel Brizola aprovou a criação do Dia do Ascensorista, celebrado em outubro.

Em março de 2006, a classe deveria ter desconfiado que nuvens carregadas começavam a cobrir o céu rosáceo de 1991. De forma insidiosa, o mal chegou vestido em pele de cordeiro. Naquele mês, a governadora Rosinha Garotinho decretou que, dali para frente, todos os ascensoristas teriam direito a uma cadeira ergonômica que lhes aliviasse a lombar, tão maltratada pelo sobe-e-desce constante. Obcecado pelo tema, o deputado Luiz Paulo não tardou em agir. Defensor ardoroso da tecnologia de ponta e do melhor uso dos espaços, julgou que cadeiras parasitando no canto de cabines quase sempre exíguas eram evidência incontestável de retrocesso. Nove meses depois, entrou com um pedido de modificação da lei. Argumentou que a "cadeira do ascensorista, junto da porta" provocaria uma "maior dificuldade para o entra-e-sai dos passageiros". Após dois anos de lenta tramitação, no começo do último mês o projeto foi incluído na ordem do dia. Deve ser assinado em breve pelo governador Sérgio Cabral. O deputado Luiz Paulo foi sagaz: aproveitou que estava eliminando a cadeira ergonômica e, zás-trás, eliminou também quem se sentava nela.

"Estão dizendo que os elevadores fazem tudo, que falam e o caramba. Mas e o deficiente? E quem tem medo? E quem não sabe aonde vai? E quando dá pane? E os que depredam? Acho que tem coisa por trás disso", diz o ascensorista Sérgio Barbosa, presidente do Sindicato dos Cabineiros de Elevador do Município do Rio de Janeiro, que não pediu anonimato por não temer a fúria de condomínios. "Você viu como o pessoal do Secovi estava juntinho no lance da comemoração da lei?", pergunta.

Secovi é o sindicato que congrega condomínios e administradoras de imóveis do Rio de Janeiro. Em abril, seu presidente, Pedro Wähmann, respondeu aos repórteres que lhe perguntavam sobre as consequências sociais do projeto de lei. Explicou: "Não está se suprimindo posto de trabalho. Aquele equipamento já foi criado para funcionar sem o operador humano."

O projeto de lei não foi a primeira "dobradinha" entre Luiz Paulo e Wähmann. Em janeiro de 2007, o deputado propôs à Assembléia que o Secovi, representado por seu presidente, fosse agraciado com a Medalha Tiradentes, honraria destinada a quem contribui substancialmente para a causa pública do estado do Rio de Janeiro, como a cantora Daniela Mercury e o Papa Bento xvi, homenageados em 2005. O próprio Luiz Paulo espetou o galardão na lapela de Wähmann.

À rotina tediosa dos ascensoristas junta-se, agora, a incerteza quanto ao futuro. A classe compareceu em peso à passeata organizada pela União Geral dos Trabalhadores no dia 1º de maio. Barbosa, do Sindicato dos Cabineiros, muniu-se de duas faixas e do abaixo-assinado que espera entregar ao governador Sérgio Cabral. Só não pôde contar com o apoio dos ascensoristas que trabalham na Assembléia. Os elevadores da casa, de 1926, são todos a manivela.

14.5.09

Bem-vinda, gatinha

11.5.09

Rá-rá-tá-tá


Revolución, história, games e Che: o blog Que planeta generoso traz a história de um jogo eletrônico que dizia hasta la victoria siempre!