25.6.09

Olá Bagdá

Uma amiga minha me escreve agora há pouco:

"Cheguei a Bagdá num belo passeio de helicóptero pela manhã para escrever algo sobre o Jaish al-Naqshbandia [explicação minha: um grupo de milicianos sunitas que eram parte do regime de Saddam]. Alguns ataques sectários horríveis aqui. Um caminhão de legumes explodiu em Sadr City ontem e uma bomba em outro subúrbio xiita hoje. Até agora nenhuma reação, mas queria ver se isso muda depois da debandada americana marcada pra 30 de junho. (...) Você viu a matéria do Guardian sobre as cultivos legais de ópio?"
Seu endereço anterior era em Cabul, daí a intimidade com que trata as plantações de papoula. Faz alguns anos que ela deriva de guerra em guerra. Logo depois que nos conhecemos foi passar uma semana com traficantes da Cidade de Deus. Não tenho coragem de lhe dizer o óbvio, que pouca gente sem nada para ganhar - dinheiro, liderança, etc - tem qualquer interesse nessa guerra estúpida. Só escrevo isso aqui na fé de que seu pouco português tenha sido esquecido.

Johanna, magra como um graveto, que de vez em quando pintava as unhas dos pés de vermelho.

20.6.09

Chenouras


Eu sei que já postei coisas demais sobre Che aqui nesse blog, mas essa é irresistível. Depois de criticar Barack Obama por matar uma mosca durante uma entrevista, a ONG americana PETA ("gente pelo tratamento ético dos animais") lançará uma campanha com uma modelo imitando a pose clássica do Che, mas vestindo apenas uma calça camuflada, uma boina bordô e uma bandoleira carregada de... cenouras.

Até aí (quase) nada demais. Mas a moçoila aí em cima tem 24 anos, se chama Lydia, é vegetariana e –tcha-rã! – neta de Che. O making-of da sessão de fotos está aqui.

A família tem alguns membros bastante públicos. A viúva do segundo casamento, Aleida March, acaba de lançar livro sobre a breve vida em comum que tiveram. Aleida e Camilo, dois de seus filhos, ela médica, ele documentarista, são entusiasmados apoiadores da esquerda latino-americana. Canek, neto do primeiro casamento de Che, é designer, roqueiro e vez por outra critica o regime cubano. Vive, como não é de se estranhar, entre Paris e Barcelona. Não sei de quem Lydia é filha, mas é um tanto estranho que a) seja argentina e b) more nos EUA.

Sarcástico que era, vô Che deve estar sorrindo.

10.6.09

O anjo azul


Taí um filme – de muitos – que tinha vergonha por nunca ter visto. Me pareceu ótimo melodrama. Todas as peças são muito bem encontradas, modernas e sutis até. Que dizer do primeiro palhaço, cujos olhares só se pode entender à medida que a trama se desenrola? Shadowing da melhor qualidade. Emmil Jannings, o Professor Rath, tem uma atuação soberba no final, estupenda, um cocoricó de arruinar o coração, em cima do palco.

Houve também uma defasagem de expectativas minhas. De alguma forma, fiquei positivamente surpreso com Marlene Dietrich. Não me entenda mal: é linda e coisa e tal, mas a imagem que sempre tive dela era de uma mulher dura, de rosto anguloso. Se você quiser, a encarnação do puritanismo. Mas no filme ela é uma atris de vaudeville, putita, manipuladora, que avança se mostrando fácil. Basicamente alguém que zomba do puritanismo.

Me parece melhor.

6.6.09

Desde Berlim, hace tiempo



Segue uma breve entrevista que dei ao bacana programa Trans, sobre arte contemporânea (sim, me consideraram autor de tal coisa), quando estava na oficina de roteiro do Festival de Berlim. Começa lá pelo terceiro minuto.

Relevem a cara de sono e o tom lacônico. Nevava, era cedo, já estava no oitavo dia de festival e a cerveja alemã tende a ser boa. Talvez explique também o fato de que eu me esqueci completamente de ter dado essa entrevista.

Ah, os festivais...

3.6.09

A paixão de Joana D'arc



Há tempos penso em propor a mi mesmo um programa mínimo de educação em história do cinema. Pois vou usar o blog para me pressionar a romper a preguiça e, sempre que possível, ver um "filme importante" e escrever duas ou três ideias sobre ele aqui sem pesquisar nada e refletindo apenas um pouco. A maior parte dos filmes vem da minha coleção, bastante boa, que por sua vez devo à coleção ótima do cineasta colombiano Rubén Mendoza. Não fosse ele e suas dezenas de Criterion Collections e outros selos, esse projeto seria mais difícil, vizinho do irrealizado.

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A paixão de Joana D'arc, de Carl Theodor Dreyer. Não há outro critério para avaliar a montagem além do da arte. Nada é informativo, tudo obedece um fluxo dos sensos. Consegue transportar o expectador para dentro da ação sem mímese alguma, mas como um livro: há muito espaço para imaginar o fora-de-quadro e expressões apenas suficientes para completar cantos escuros das personagens. Trabalho de casting impecável tanto dos algozes quanto de Joana que, segundo li, era uma atriz teatral mais especializada em comédias. É de uma beleza santa, por vezes, embora os lábios e olhos apontem também uma sensualidade que talvez explique um pouco do carisma da própria Joana como ator histórico. Trabalho de fotografia ousado para a época pelo puco que sei, cheio de tilts e dollies pouco usuais mesmo hoje. Cheiro de cinema sendo descoberto. Teria sido uma pena o filme ter se perdido para sempre, o que quase aconteceu: julgava-se perdido para o fogo há décadas até que em 1985 se encontrou uma cópia num hospício norueguês. Anedota curiosa. Parece muito mais ousado que Vampyr, filme seguinte de Dreyer.

2.6.09

Nay, nay, nay




Taxman tocada no Japão? Clipezinho riponga de "Here comes the sun?"? "Unison bonus"!?!?!?

Esse é o clipe de lançamento do videogame dos Beatles. Com ele, em teoria, qualquer um vai poder tocar igual aos fab four.

Não sei se amaldiçôo ou compro um.