30.4.09

Realismo e artifício

Há tempos não leio um artigo provocativo como esse de Ted Gioia. Seu argumento básico, colocado de forma clara e limpa, é que a crítica e a chamada boa literatura se alimentam do realismo, enquanto o que continua – "continua" porque assim era por boa parte da história das narrativas – mobilizando as mentes de leitores do mundo todo são obras que devem muito mais ao fantástico e o irreal.

Estou simplificando terrivelmente suas idéia, portanto peço que você se dirija ao texto (em inglês) e leia por você mesmo um conjunto de idéias que pede uma revisão completa do que se considerou bom e ruim no século vinte e junte ao panteão onde repousam experiências de linguagem (bem quistas até hoje, e nada contra) livros considerados popularescos, ruins, pulps, pops e rasos. Gioia não entra na lógica de "bom" e "mau", apenas observa – e ele está inegavelmente certo – que não há dúvidas de onde está o amor dos leitores: na fantasia.

(A propósito, ele lista uma "biografia fantástica" bastante ampla (e, para alguns, herética) que junta Saramago, García-Márquez, Harry Potter e o Crash, de Ballard; delicioso)

Gioia também faz pedaços de nomenclaturas inadequadas como ficção científica, algo que muito me interessa, porque se conecta intimamente com a ideia do que quero que seja meu próximo filme. Nele, vemos um Brasil que se tornou uma potência mundial graças à invenção de uma pílula que garante a imortalidade por vinte anos, mas exige que seus usuários a renovem, ou então enfrentarão uma morte dolorosa. O protagonista do roteiro é precisamente um homem fracassado, na pílula há décadas, que não tem dinheiro para a renovaçnao e, portanto, está marcado para morrer. A trama se desenrola exatamente sobre o que esse homem será capaz de fazer para permanecer vivo.

Agora a pergunta: isso poderia ser chamado de ficção científica? Não, na minha opinião, mas esse tem sido o rótulo usado por muita gente para descrever a ideia. Sempre foi uma forma que me pareceu muito incômoda. Seria o mesmo que chamar, por exemplo, Admirável mundo novo ou Brilho eterno de uma mente sem lembranças de ficção científica.

Gioia toca nesse ponto em seu ensaio: a ciência geralmente é apenas uma forma de saltar para o mundo imaginado, e no mais das vezes é também ela imaginada e falsa. Vou adiante: num mundo moderno, onde não há deuses e forças superiores críveis, há que se apelar à única coisa em que o homem moderno realmente se curva: a ciência. Na verdade, a ciência é apenas um caminho para forçar, arbitratriamente, a verossimiliança da história.

28.4.09

No planeta Gatopardo

Acaba de sair no México o livro Crónicas de otro planeta, que reúne 22 reportagens publicadas nos últimos anos pela revista Gatopardo, decana das publicações de jornalismo literário na América Latina. No livro há um texto meu, "Desenterrando al Che", que vem muito bem acompanhado por contribuições de gente que escreve de verdade, como o uruguaio Leonardo Habekorn e o mexicano Fabrício Mejía Madrid. Na entrevista abaixo, concedida a León Krause da ótima Letras Libres, o editor Guillermo Osorno comenta os eixos que nortearam a seleção do livro, que pode ser comprado na Gandhi ou na MuchosLibros, ambas mexicanas.

25.4.09

Che volta a São Paulo

Boas novas: Personal Che foi selecionado para abrir outra mostra, a tradicional retrospectiva de melhores de 2008 organizada pelo Sesc de São Paulo. Che foi um dos cinco docs na seleção de 52 filmes, junto com títulos como Pan cinema permanente, de Carlos Nader, Serras da desordem, de Andrea Tonnacci, e Sicko, de Michael Moore.

O filme volta a passar dia 28, às cinco da tarde, no CineSesc, na Augusta.

23.4.09

Maricá desrespeita a Revolução Cubana

Não há muito mais a comentar quando o título é esse. Vai mais um trecho:

"Para irritar ainda mais o médico argentino Ernesto Che Guevara, Maricá possui um desastroso atendimento médico, um único prédio hospitalar mal equipado, aos cacos, com atendimento ineficiente. Nem a campanha de vacinação do idoso, que começou há uma semana em todo país, sequer foi anunciada aqui. Para deixar mais furioso o companheiro Che, o governinho maricaense pouco pensa em cultura e educação, mas adora aparecer em reuniões ou dar festa."
A coisa está toda aqui.

21.4.09

Ache uma poltrona



O Youtube finalmente abriu sua seção de documentários. Provavelmente o movimento em direção de conteúdo profissional é um aceno para os anunciantes que realmente podem bancar os altos custos do site, mas fogem do último tombo do vizinho filmado no celular. Tem diversas coisas bacanas, especialmente do Herzog: Little Dieter needs to fly, Meu melhor inimigo, o impressionante Lessons of darkness, enquanto que de ficção há Kaspar Hauser, Aguirre, Fitzcarraldo e outras coisas muito finas. Mas não para por aí: fuçando encontrei coisas boas como A revolução dos bichos, do Orwell, Abre tus ojos, do Amenábar (infelizmente bloqueada para o Brasil) e um desconhecido Do you like Hitchcock, dirigida por ninguém menos que Dario Argento. O Youtube até pergunta se você tem certeza de quer ver.

Se tiver, é só dar play aí em cima.

17.4.09

No Rio e em Mineápolis



Boas notícias: Personal Che está de volta às telas do Rio depois de alguns vôos rasantes nas últimas semanas – uma sessão MovieMobz e a presença nas retrospectivas de melhores de 2008 da CPLP e, agora, do CineSesc. O filme vai ficar a partir de hoje até quinta que vem em um só horário no Cine Glória (que aliás tem uma ótima programação que você pode conferir aqui). É a chance para quem não viu.

Além de visitar as praças já conhecidas, o filme chega também a mais um festival nos Estados Unidos: o de Minneapolis-Saint Paul. O filme passa nos dias 23 e 27, para quem estiver de passagem, e os horários estão aqui.

16.4.09

Che bailante!

É isso mesmo, um musical sobre a vida de Che estreia na Argentina com estardalhaço. Tem até um blog cheio de fotos de bailarinas suadas se contorcendo. Nada mal. Tem gente dizendo, inclusive, que o polpudo apoio monetário da Casa Rosada é pra atrair a esquerda cada vez mais distante dos Kirshner.

Isso eu não sei, mas sei que um musical sobre a vida do Che já foi encenado com orquestra, dezenas de bailarinos e explosões há três anos – e no Líbano!



Atualização: a BBC pôs em seu site um vídeo do musical.

12.4.09

Ebenezer Obey e seus amigos

Meu bom amigo DJ/sound designer/músico/produtor Ricardo Cutz tinha me passado o link para o Awesome Tapes from Africa há um bom tempo, mas nunca tinha mergulhado. O link ficou numa gaveta perdida. Ontem dei de cara com ele de novo numa matéria da Folha sobre música africana. Voltei e gamei: site pra baixar loucamente milhares de fitas K7 safadas da melhor qualidade, garimpadas por um americano malucão e apresentadas (às vezes) com comentários bastante elucidativos.

Quase nada de folclore aqui: hiphop de várias partes, juju music, high life, música gnawa do Marrocos (pra quem gosta de samba) e muito rock e blues do Mali – o país com a melhor produção dos dois gêneros, hoje, na minha modesta opinião. E você ainda leva de brinde capas com figuraças como Ebenezer Obey. Tem erro?

5.4.09

Che no Rio



Chegando tarde ao blog, mas já devidamente anunciado alhures: hoje, domingo, cinco de abril, tem sessão de Personal Che às 8:30 da noite no Cine Odeon BR, Cinelândia, Rio de Janeiro. A sessão foi mobilizada através do site MovieMobz.com. Achei tão legal que apareço lá pra conversar com quem quiser saber mais coisas do filme.

A foto vai em homenagem ao Long Hair, que acabou de fazer aniversário quase indo (de novo) em cana por conta dos seus protestos contra a China.