27.1.09

Desencavando

O blog anda meio parado por conta da loucura de aprontar meu roteiro para o Festival de Berlim (mais detalhes em breve), então aproveito a aprovação da Constituição Moraleista na Bolívia esse domingo para desencavar uma conversa que tive com Morales dias antes da eleição que o consagrou como presidente.

É sempre bom lembrar que ele prometeu confusão desde o início. Cumpriu sua palavra.

"Evo Morales está de tênis, jaqueta pesada de couro e o topo de sua cabeça é um formidável capacete de cabelo índio muito negro. Parece um pouco tenso. Fala baixo ao celular meio remendado olhando pela janela da sacada os muitos repórteres que o esperam no saguão do hotel e, por cima do próprio ombro, uns poucos que estão mais perto, apenas alguns degraus abaixo."
O resto – inclusive um entrevero com o entonces casi flamante líder boliviano – você lê aqui.

12.1.09

فلسطين

Já se vão sete anos da época em que trabalhava no JB e cobria, principalmente, Oriente Médio. Uma das matérias de que mais me orgulho saiu pequena, contava com poucas fontes, fontes de um lado só, e não falava de nada especialmente importante politicamente. Era sobre o cerco israelense a Ramala, cidade mais importante da Cisjordânia.

Apesar de achar o título melodramático (o meu era outro) ainda teria orgulho de escrever essa matéria hoje. O grande problema é que o mundo conseguiu torná-la obsoleta: morreu comparativamente pouca gente nessa ocasião. A matéria, salvo engano, não noticia mortes, mas uma agoniada espera.

Em 2002, fez-se um grande escândalo sobre um massacre ocorrido na cidade palestina de Jenin, na Cisjordânia. Em seguida, formou-se outro escândalo quando se descobriu que o massacre não tinha sido tão grande. O primeiro movimento foi dizer que o Exército israelense exagerou na resposta. O segundo, dizer que a imprensa exagerou na reação.

Pois bem: desde o início da ofensiva a Gaza já morreram, comprovadamente, mais do dobro de palestinos mortos nos rumores que davam conta de Jenin. A realidade suplantou um exagero espetacular.

É difícil pensar que não estamos nos acostumando a isso.

7.1.09

Ajude-me a matar (uma personagem)

Sim, é mórbido. Sim, é humor negro tão poucos dias depois do Ano Novo com todo mundo de branco. Que fazer? Meu protagonista precisa assassinar várias pessoas e minha cabeça está longe de ser criativa para tal tarefa. Portanto... alguém se habilita a fazer sugestões nos comentários desse post?

Serve qualquer morte, desde que seja criativa e não pareça natural: cordas, tiros, facas, etc são muito fáceis, mande apenas se achar a idéia MUITO boa. Para uma idéia, minhas últimas duas da lista são com um estouro de cavalos e pelo ataque de abutres.

Tente não plagiar mortes de personagens da ficção. Tente fazer mortes baratas. Mortes executáveis por um homem só. Mortes de época não valem. Mortes divertidas são benvindas.

As melhores sugestões vão para o roteiro. Se tudo der certo, esse roteiro vira um filme. E, nesse filme, garanto seu nome nos créditos.

2.1.09

Ideias em tiras

Pouca gente ainda tem dúvida de que histórias em quadrinhos podem ser arte. Estão aí Frank Miller e Will Eisner que não me deixam mentir (bom, Eisner já não está, infelizmente, mas você entende...) Mas para mim mesmo ainda não era claro o quanto os quadrinistas especializados em tirinhas andam ambiciosos. Quem sabe esqueci do Little Nemo, sei lá, mas era só falta de enunciar mesmo, porque na prática a sessão de tiras da Folha já é a que recebe minhas visitas com mais frequência. Hoje, por exemplo, achei os quatro quadradinhos do Caco Galhardo o que de mais apropriado se pode dizer desses dias:




Mas é o Angeli quem fez o mais bonito, o mais cabeça, o que merece mais tempo – embora não exija – para ser (ai, ai, ai) fruído.



O roteiro parece não ser nada demais. Mas o uso da cor lança o sentido para o alto, muito alto. "Roteiro"? "Uso da cor"? Sim, sim, é de arte que se fala.

PS: Esse post (acho), seguiu as normas do novo acordo ortográfico da língua portuguesa. Mas não se acostume :-)