16.7.08

Hecho en Mexico

La treintañera más formosa e bem informada desse lado do Rio Grande começa a blogar a partir de hoje num sítio de nombre por demás esquisito (con trocadillo): Farofa de Nopal. Em breve, desde México.

Auguri!

Na dúvida



O blog e seu autor estão encafifados. Será verdade, no fim das contas?

11.7.08

O Che de Teerã



Difícil não notar a semelhança entre o cara na foto acima e nosso amigo argentino. Vai além da imagem, diga-se: depois de aparecer nessa capa da Economist nove anos atrás como um símbolo de uma nova revolução liberalizante no Irã (que não aconteceu), Ahmad Batebi passou o pão que o aiatolá amassou nas prisões do país. Tentaram desfazer o ícone na porrada. Pois bem: Batebi está livre. Não se sabe como, conseguiu fugir do país e foi pra Washington. Diz que em breve revela todos os detalhes de sua saga, fotografada com o celular que o acompanhou na cadeia, em seu site.

A ver se não se decepciona com a nova casa.

Estréias revolucionárias


Na fila do Cine Yara, 2006

Do Granma, jornal oficial cubano:

"Desde ayer y hasta el 16 de julio en los cines de estreno de la capital el Instituto Cubano de Cine e Industria Cinematográficos (ICAIC) presenta una variada programación. En las salas Yara y Acapulco se exhibe Personal belongings (Cuba-Bolivia, director Alejandro Brugués); en el Payret El cantante (The singer, EE.UU., director Leon Ichaso) y El ojo (The eye, EE.UU., directores David Moreau y Xavier Palud); en los cines Alameda y Ambassador El señor Magorium y su tienda mágica (Mr. Magorium’s Wonder Emporium, EE.UU., dirigida por Zach Helm)."
Enquanto isso, Alfredo Guevara, diretor do Festival de Havana, diz que o Che de Soderbergh só passa se não tiver ataque a Fidel. Ele ainda não viu o filme.

10.7.08

Sobre os diários de Che



Correu pela imprensa a notícia de que diários da campanha de Che na Bolívia foram divulgados e que serão em breve publicados por uma editora local. Rumora-se que Fidel Castro vá fazer um prólogo. Tudo balela. Não há página do diário de Che que não seja de conhecimento público. E Castro já escreveu seu prólogo 40 anos atrás.

Logo depois da execução de Che, em outubro de 1967, todos os pertences sem importância foram divididos entre os soldados bolivianos. Um gordinho em Santa Cruz de la Sierra chegou a me oferecer uma agulha de costurar couro que, diz ele, teria sido de Che. Os que valiam alguma coisa, claro, ficaram nas mãos do governo.

No começo de 1968, Fidel Castro escreveu o prólogo daquela que seria a primeira edição dos diários de Che. Foi um estouro de vendas. Ainda hoje é possível encontrar a edição original em sebos cubanos, talvez um dos livros mais populares na ilha junto com a Bíblia, Diário de um Mago e Fidel e a religião. Inicialmente, o governo boliviano disse que se tratava de uma fraude, o que logo foi desmentido por diversos jornalistas que tiveram acesso às cópias fotostáticas de algumas páginas fornecidas por Havana e La Paz. Ensandecidos – já haviam acertado um acordo milionário com uma editora americana para publicar o livro – os bolivianos se perguntavam quem havia dados os originais a Castro.

Um deles próprios: Antonio Arguedas, ministro do Interior. Cansado de ver a ingerência da CIA nos corredores palacianos, decidiu se bandear para o lado dos cubanos. Ao que consta, fez as cópias microfilmadas chegarem a Havana escondidas na capa de um LP de Mel Tormé. Meses depois, incumbiu dois amigos de levarem um pote de formol com as mãos de Che para a ilha. Coisa de Graham Greene.

Arruinado o acordo – na época o interesse sobre o conteúdo dos escritos não incluía o fetichismo de ver com que garrancho Che os escreveu – os diários foram para o Ministério da Defesa para juntar poeira. Nos anos 80, sumiram, quase foram a leilão na Sotheby's, mas o governo conseguiu impedir a venda. Desde então, um sem número de historiadores e biógrafos puderam folhear os diários. Chega a ser engraçado que o envelope que os continha tenha um "SECRETOS DE ESTADO" escrito de fora a fora. Há pelo menos dez anos, o boliviano Carlos Soria Galvarro edita anualmente uma coleção de seis fascículos em que não só exibe diversas páginas manuscritas como as contextualiza, citando diários de companheiros de guerrilha, do Exército e outros. Todos os anos, em outubro, sai junto com o jornal La Razón.

Resumo: ainda que a editora boliviana queira fazer você acreditar que está comprando algo novo, não seja bobo. O bom e velho (e melancólico) diário de Che na Bolívia já está à venda nas melhores casas do ramo. Você também pode folheá-lo online, ainda que a viúva, Aleida March, tenha tentado retirar do ar as versões digitais graças a um bom acordo com uma editora australiana.

7.7.08

Crimes e castigos

O propósito da fé de leões e pretos velhos




(Publicado originalmente na Piauí 22)


Quando Afonso Henrique Alves Lobato abriu a porta daquele sobrado no Catete, no Rio, e subiu correndo a escada até o 2º andar, esperava encontrar nada menos que um demônio - ou vários -, mas o que encontrou foram apenas imagens de devoção. No centro de um altar estava Jesus Cristo, rodeado por Santa Bárbara, Nossa Senhora da Conceição, São Jorge, São Sebastião e Santo Antônio; no chão, uma grande estátua de São Lázaro. Ou, dependendo da orientação do devoto, Oxalá, Iansã, Oxum, Ogum, Oxóssi, Exu e, no chão, Omulu. Isso e mais diversas imagens menores de Iemanjá (ou Nossa Senhora da Glória), do cacique Cobra Coral (sem correlato na hagiografia cristã) e de pretos e pretas velhas (idem), algumas com quase oitenta anos de vela e reza nas costas.

Afonso Lobato começou a atirar as imagens no chão. Dominique Pereira, sua amiga de fé, completava o serviço, esmigalhando os cacos com os pés. Raimundo Pessoa e Alessandro dos Santos, que demoraram mais para subir a escada, não tiveram tempo de ajudar os companheiros a levar a cabo a obra de Deus. Os santos já eram pó.

A confusão se instalara minutos antes, quando os quatro, freqüentadores da casa evangélica Geração Jesus Cristo, começaram a fazer proselitismo na fila de aflitos que esperava diante do Centro Cruz de Oxalá. Lobato, segundo relatou, disse aos umbando-kardecistas que, ao invocar santos, eles estavam na verdade chamando o demônio. "Maria Mulambo nunca fez nada por eles, o Tranca-Rua não morreu por eles. Jesus morreu na cruz. Falei que eles ainda tinham chance de se salvar, mesmo sendo espíritas. Tudo sem impor nada, sem gritar nada", diria mais tarde.

A destemperança foi deflagrada quando um dos não-salvos inverteu o jogo. Declarou que levaria o nome dos crentes para o terreiro, presumivelmente para que fossem objetos de um trabalho. Lobato não estava para ecumenismos. Com idéias nada cristãs na cabeça, tocou a campainha e, inadvertidamente, alguém lá dentro puxou a cordinha que abre o trinco. Em questão de segundos o andar de cima estava forrado de cabeças de santo e de pretos velhos decapitados. Meia dúzia de senhoras seguravam o espanto entre as mãos.

Depois de bater boca com um senhor que, "além de pai-de-santo, ainda era homossexual", como lembrou Lobato, o grupo quis ganhar a rua. Os quatro desceram a escada estreita, mas a tranca emperrou. Encurralado ao pé da escada, o quarteto só viu a calçada quando a porta foi aberta por fora. Lá estavam vinte umbando-kardecistas furiosos, além de quatro policiais e duas viaturas.

Na delegacia, os jovens não pareciam arrependidos e reagiram estoicamente ao serem enquadrados nos artigos 147 (ameaça), 163 (danos ao patrimônio) e 208 (ultraje a culto) do Código Penal. Enquanto o grupo depunha - "O diabo estava naquela casa!", disseram -, o pastor da congregação, Tupirani Lores, tentou em vão conter a curiosidade dos jornalistas. "Eles não iam fazer isso do nada, são pessoas pacatas e tranqüilas, exemplos na nossa igreja. Fiquei muito surpreso. Não incentivamos esse tipo de atitude. Só vou saber exatamente o que aconteceu no culto de amanhã."

A repercussão foi grande. Jornais populares puseram o caso na manchete principal da primeira página. Apresentadores de televisão franziram o cenho ao abrir telejornais com o assunto. Na Assembléia Legislativa, houve pendenga entre os deputados Átila Nunes, umbandista militante - "Queria ver fazer isso em Bagdá!" -, e Édino Fonseca, pastor da Assembléia de Deus, que contra-atacou em estilo vale-tudo: "Extremos existem também entre os umbandistas, como quando eles fazem sacrifício de crianças."

A comoção e o interesse duraram menos de 24 horas. Já naquela noite, quando o pastor Tupirani assumiu o púlpito da Geração Jesus Cristo, numa rua escura do bairro de Santo Cristo, atrás da Central do Brasil, o caso caminhava rapidamente para longe da pauta jornalística. Ninguém estava lá para ouvir o que ele tinha a dizer sobre o caso.

O pastor é um homem de bom porte, sem um único fio de cabelo fora do lugar. Sua presença cala imediatamente os fiéis. Embalado por um violão elétrico, ele canta a plenos pulmões o hino Nosso General, cujo refrão admoesta com vigor bélico: "O nosso general é Cristo/ Seguimos os seus passos/ Nenhum inimigo nos resistirá!"

Enquanto a música soava, ouviu-se o barulho de um objeto pesado que se chocava contra o telhado. É rotina, ninguém estranha. Tupirani trovejou: "O palhaço já está atirando pedras de novo! Mas atira escondido, porque é covarde. Nós já sabemos que ele é ligado à boca de fumo aí em cima. Se ele nos atira pedras, irmãos, nem faz idéia do tamanho da pedra que o Nosso Senhor Jesus Cristo vai atirar na cabeça dele. Amém?" (O pastor tem o cacoete de usar o amém - "assim seja", em hebraico - na forma interrogativa, como se dissesse: "Certo?")

Depois de imprecar contra o vizinho palhaço, Tupirani passou às leituras bíblicas. Dado o ocorrido, os incautos esperariam um bom Sermão da Montanha ou, quem sabe, a passagem em que se fala sobre oferecer a outra face. Não. O trecho escolhido trouxe o profeta Eliseu na guerra contra os sírios.

Todos os sermões de Tupirani podem ser comprados em CDs, a 1,50 real cada. Um de seus maiores sucessos é Guerra 1 e 2, obra em que pega fogo: "Jesus Cristo não veio a este mundo com bandeira da paz, amém? (Amém!) Jesus Cristo veio a este mundo com sangue. Sangue da guerra! Sim ou não? (Aleluia!) Jesus Cristo não veio a este mundo como pacificador. Não, não. Não veio. Quem é teu Cristo? É um Cristo de paz ou da guerra? Para mim, Jesus Cristo é homem de guerra!" O tom não varia muito ao longo de quase setenta minutos. Lembra um pouco Dick Cheney imprecando contra Sad-dam Hussein.

O pastor já foi da Igreja Universal. Foi também umbandista, espírita, batista e pentecostal. Resolveu abrir sua própria casa em 1999, quando saía do templo onde pregava e, segundo consta, se deparou com um anjo de aspecto abatido que o espreitava com um papel amarelado na mão. Era um mensageiro divino. Tupirani desdobrou o papel e leu nele a palavra "Restauração". Decidiu na hora que fora escolhido para trazer o cristianismo de volta aos trilhos.

Passado o furor iconoclasta contra o Centro Cruz de Oxalá, tanto o pastor como seu discípulo Lobato se mostram serenos. O protagonista do quebra-quebra diz que se arrepende do que fez, embora pouco se importe com a decisão do tribunal dos homens. (Será em agosto a primeira audiência do processo.) Tupirani, por sua vez, reafirma o que disse à imprensa no dia da confusão: não é um agente da intolerância, não instruiu nem incitou Lobato e colegas a fazer o que fizeram. O que não o impediu de proclamar, do alto do púlpito, poucos dias depois do ocorrido: "Como pastor, acredito que esse ministério não forma cordeiros. Esse ministério é para formar leões!" Não propriamente a mais dócil das criaturas, como se sabe.

4.7.08

Lustrando o ego

Não cabe negar que se faz cinema, também, para tratar bem do próprio ego. É por isso que uma crítica como a de Amir Labaki, diretor do É tudo verdade, publicada hoje no jornal Valor, economiza algumas sessões de análise:

"Não se trata de outro documentário biográfico sobre Guevara, mas sim de uma anatomia de seu mito póstumo, numa operação de desmontagem de mitologias contemporâneas. (...) Personal Che se destaca entre as estréias recentes de documentaristas brasileiros e sul-americanos por sua rara ousadia de transcender as fronteiras nacionais. O paroquialismo é um dos grandes grilhões da nossa não-ficção, sob a justificativa, não de todo enganosa, dos evidentes limites orçamentários à produção documental. Eis aqui uma prova de que, na era digital, é possível ousar mais."
Sobre esse último ponto: nosso acordo com os produtores não permite revelar o valor de produção do filme, algo que não me incomodaria em absoluto, mas apelando para o inuendo: Personal Che foi filmado em quatro continentes, blablabla, e custou menos de dois DocTVs.

Não somos os únicos a filmar assim, claro. O português Pedro Costa reza na mesma cartilha, o japonês Masahiro Kobayashi também e, em território nacional, há o projeto valente da Pax Filmes de fazer quatro longas por R$ 80 mil. Não há nada a unificar as propostas estéticas além do "vamos fazer". Basta custar pouco? Não. O primeiro pax-filme foi selecionado para Gramado, se isso diz alguma coisa.

Glória ao cinema barato!

Hitch(cock) & Tru(ffaut)



Lembram daquele livro maravilhoso contendo entrevistas de François Truffaut com Alfred Hitchcock que saiu por aqui em edição chique e caríssima? Pois agora você pode montar seu próprio Personal Hitch & Tru a partir das gravações originais, disponíveis aqui.

Adelante

Já terminou a festa pela libertação de Ingrid Betancourt? Pois bem, vamos varrer o merecidíssimo confete do chão e pensar para frente.

• Não há dúvidas de que a operação foi um sucesso. Mas de seus procedimentos surgem implicações: o governo disfarçou agentes como enviados de paz europeus, a ponto de treiná-los para falar espanhol com sotaque francês e suíço. Também divulgou nos jornais que esses enviados estariam no país. Como ocorrerá a mediação européia de novas libertações depois de França e Suíça terem colaborado silenciosamente com um golpe tão forte contra as Farc?

• É impressionante correr a imprensa colombiana e não encontrar quem questione o momento que Uribe escolheu para levar à frente a operação: em torno da visita ao país dos dois candidatos à Casa Branca. Não é demais lembrar que, além de Ingrid, havia três contratistas militares americanos nas mãos dos guerrilheiros. Todos – inclusive no Brasil – que são tão rápidos em criticar Hugo Chávez e até Lula por jogar para a platéia deveriam berrar agora também. Não é feito em palanque, não é berro em comício, mas se há um nome para o que Uribe fez essa semana com um assunto importantíssimo da segurança nacional de seu país, o nome é esse: populismo. Ainda que de forma sutil, presidente colombiano e o ministro da Defesa – ambos de olho nas próximas eleições presidenciais – jogaram com as vidas de 15 pessoas para ganho político. Mais: podem ter dado uma cartada definitiva (e fatal) no destino de quase três mil pessoas nas mãos das Farc. Não à toa, escolheram os reféns mais importantes. Custa acreditar que a elegância da Operação Jaque seja reeditada.

• Quem acha que os questionamentos não serão enterrados nas próximas semanas deve ter cuidado. Quando falam de política, os colombianos são os reis do desconversa. Não à toa uma pesquisa internacional chegou à conclusão que são um dos três povos mais felizes do mundo.

Comemoremos. Mas e se tivesse dado errado?

2.7.08

Zum! Paf! Bou! Zililit!

Quem conhece o programa Recorte Cultural, sabe que é uma judiação sacar uma pequena parte do todo e estragar a edição enlouquecida e divertidíssima que o programa liquidifica todo santo dia na TV Brasil (a isso se refere o título do post). Personal Che teve direito a suas duas moléculas de fama, mas mesmo assim decidi deixar algo do que veio a seguir: um pouco de Moacir Luz e um rabinho de um filme que... acabo de me esquecer como se chama. Amanhã completo o post com informações e, se possível, melhoro a qualidade (sofrível) do vídeo.


Recorte from Douglas Duarte on Vimeo.

En Mexico



Personal Che acaba de ser selecionado para a competição latino-americana do DocsDF, o principal festival de documentários do México. A mostra está em sua terceira edição e nas duas anteriores exibiu mais de 350 filmes de todo o mundo.

Outros dois filmes brasileiros serão exibidos: O último kuarup branco, de Bhig Villas-Boas, e Dreznica, de Anna Azevedo. Não vi o primeiro, mas vem com a chancela do É tudo verdade. O de Anna estreou em Berlim, passou no HotDocs... que mais dizer além de que gostei muito e de que você deve ver o trailer abaixo?



Saludos, congratulaciones a todos y ¡hasta Mexico!

Cinética

"Previsível, mas nunca desinteressante (...) compõe um painel rico (...) há abuso de poder".

Júlio Bezerra, um dos jovens turcos da crítica brasileira, analisa Personal Che.

Já era hora. :-)

A política, os líderes e a imprensa

Não é nenhum fenômeno sumamente novo, mas é interessante ver como a imprensa dos dois lados de um bate-boca vê de forma absolutamente diferente esse mesmo bate-boca. Aí vão as chamadas de hoje dos principais jornais de Peru e Bolívia, todos falando sobre a crise entre os dois países por conta da instalação de uma base americana em território peruano.

• Bolívia:
Los Tiempos: El canciller peruano amenazó con revisar su política de cooperación con Bolivia
La Prensa: Se agrava la crisis con el Perú porque García mandó a callar a Evo
La Razón: Alan García y Evo libran una guerra verbal subida de tono
El Diario: Perú revisará política de cooperación con Bolivia

• Peru
El Comercio: El Perú y Bolivia afrontan tensión por declaraciones del presidente Evo Morales
La República: Jefe del Estado exhorta a Morales a no intervenir en política interna del Perú
Correo: El Perú le frunce el ceño a Bolivia