28.10.07

Bauru em Bauru



Bauru é um dos poucos lugares no mundo onde se pode sair de Manchester e chegar a Shangri-la, passando por Nagasawa. De ônibus.

Em Bauru (essa semana e as duas próximas, apenas) o circo Napoli, paulista, apresenta seu inesquecível show das bandeiras. A trilha tem hinos de diversos países e termina com We are the world.

Fernando, um gay magrinho, de gel no cabelo e boné de lado, já pediu algumas vezes para fugir com eles.

Os funcionários já estão sem paciência. E a estréia foi anteontem. Enquanto isso, Fernando, que mora a 15 quilômetros do Centro, ajuda com as pipocas.

O espetáculo mais divertido do Napoli é o da cama elástica, protagonizado pelo filho do palhaço Eduardo e pela filha moreninha da trapezista. Acontece sempre depois que todo mundo sai e eles, sem dúvida, são os que mais se divertem. Acaba quando uma das mães berra que vão sujar o pijama.

A equipe de malabaristas da gangorra quer ir pra outro circo. Pede fotos, debate poses discretamente. Pede que mande tudo para o email. O endereço é mais ou menos assim: fulano.circos@gmail.com. "É melhor porque cabe foto grande".

A melhor trapezista, Andréa, também equilibra um castiçal com velas na ponta de uma adaga que segura com a boca, enquanto sobe escadas de uma perna só. Enquanto espera o próximo número, põe um avental e vende churros. Tem músculos delineados nas costas, uma bunda feita com photoshop e sua maquiagem tenta deixá-la com cara de travesti. É linda.

Em tempo: é a primeira a entrar no show das bandeiras. Leva a da Itália.

Richard raspa os cabelos do lado da cabeça, ficado só com um moicano que lhe deixa com jeito de guaxinim. Sua roupa de veludo preto suja muito. Por isso ela fica sanduichada dentro de uma outra, de lona. Richard veste as duas, tira a de cima só na hora de ir pro picadeiro, e a veste de novo assim que sai. Aí tira as duas e vai terminar sua coca-cola.

Não há nem metade das cadeiras cheias no Tivoli. É a terceira e última apresentação do domingo.

Amanhã, às nove horas da manhã, 30 bóias-frias receberão indenização por terem sido flagrados trabalhando em condições análogas à de escravidão numa fazenda de cana-de-açúcar. Um deles foi picado por uma cobra que fugia do canavial em brasa.

O bauru do Lula, na esquina da praça principal, não vem com bife, mas com rosbife. É o melhor de Bauru, ele explica.

26.10.07

Epahêia!

A ânsia de falar mal de Che é tão grande que até revistas sérias começam a acreditar na vida após a morte.

Num despacho em que alega que o culto a Che sofre uma baixa, a revista americana Foreign Policy garante: Che colaborou na perseguição de homossexuais e vítimas da AIDS.

Bom, levando em conta que ele morreu em 1967 e que os primeiros casos registrados da epidemia datam do fim da década de 70, só se foi com ajuda de médiums. Quem se candidata a cavalo de Che aí?

* Adendo de horas depois: deram uma corrigida, mas a emenda é pior que o soneto. O cara realmente quis dizer isso.

23.10.07

Che na Folha

Silvana Arantes escarafuncha alguns detalhes – não tão gloriosos – da produção de Personal Che em sua matéria para a Folha. E ainda põe um palavrão na boca desse moço tão fino.

"Personal Che" foi feito com a intenção de "provocar" a platéia. Quando os primeiros espectadores do filme caíram na risada em vários momentos, Duarte avisou a Mariño: "Porra, fizemos uma comédia!".

15.10.07

Mostra de SP – datas!

Personal Che vai passar na Mostra nos seguintes dias e locais:

• Unibanco Arteplex 1, sábado 20 às 17:10 (Sessão 93)
• Unibanco Arteplex 2, segunda 22 às 13:30 (Sessão 275)
• Cine Bombril 2, quinta dia 1º às 20:10 (Sessão 1144)

Até lá!

14.10.07

Pimpão



Quem acompanha o blog (ou seja, eu) sabe que isso aqui também é um Hitchensômetro. Pois é. Demorei pra postar, porque ainda não havia sido aberto na internet, a experiência do querido rabugento num spa. Memorável como é de costume, principalmente porque sempre há substância debaixo do suflê de polêmica. Além disso, a foto é a segunda melhor dele já publicada.

Segunda porque a melhor ainda é a que tenho aqui na cortiça, do rotundo polemista trajando apenas óculos escuros e sunga no Rio Tigre, no Iraque, fechando o punho a la Panteras Negras.

Trechinho onde ele se auto-avalia:

Proceeding south and passing over an almost vanished neck that cannot bear the strain of a fastened top button or the constriction of a tie, we come to a thickly furred chest that, together with a layer of flab, allows the subject to face winter conditions with an almost ursine insouciance. The upper part of this chest, however, has slid deplorably down to the mezzanine floor, and it is our opinion that without his extraordinary genital endowment the subject would have a hard time finding the damn thing, let alone glimpsing it from above.

O papa não tem dogmas



Mestre Eduardo Coutinho abre o verbo sobre seu trabalho (e o dos outros) num vídeo de vinte e poucos deliciosos minutos na recém-nascida Moviola (palmas pela bela estréia, aliás).

Há tempo me impressiona como parte da crítica e a academia gostam de usar os filmes de Coutinho (a outra vítima é Jean Rouch) pra ventilar seus dogmas e "não-podes" no campo do filme documentário. Foi só mais recentemente, lendo com mais atenção entrevistas do próprio Coutinho e, em certas ocasiões, tendo a sorte de bater papo diretamente com ele, que me dei conta de quanto ele não faz proselitismo de seus métodos. Há uma frase que mostra isso de forma clara lá pelos 18 minutos da vídeo-conversa, onde ele fala do seu arrepiante Jogo de cena. Vai mais ou menos assim:

"Essa questão de usar atores ou não, misturar eles, isso para mim não é um problema. É um jogo."

Pois é. É muito mais produtivo e criativo encarar as coisas em termos lúdicos que em debates de certo e errado.

* Mais tarde atualizo o post com outras frases, se der.

13.10.07

Alguém aí fala sueco?



Personal Che ganhou uma bela reportagem no Sydsvenskan, bom jornal da terra de Ingmar Bergman. Como afirma o correspondente Henrik Jönsson:

"Personal Che" har fått lysande recensioner i brasiliansk press och alla visningarna är utsålda. Men den har också väckt många reaktioner. Vid en visning på filmfestivalen i Rio de Janeiro reste sig en man upp och bad regissören dra åt helvete.
Eu acho que é isso mesmo!

12.10.07

Mudar o mundo

Uma pausa de toda a Che-postação aqui. A Sight and sound, revista decana do cinema britânico, tem uma interessantíssima reportagem esse mês sobre dez documentários que ajudaram a mudar o ambiente onde foram feitos – mudar o mundo, para ser grandioso.

A lista tem autores incontornáveis – como Errol Morris e Leni Riefenstahl – e não é nem de longe eurocentrista: há documentários do Japão, da China, do Irã. Lista muito fina para ser caçada item a item nos emules da vida.

A matéria completa está fechada na internet, mas é possível ter acesso ao texto de introdução do crítico Mark Cousins onde ele faz uma colocação interessantíssima: nenhum desses filmes adere ao cânone de isenção, de simplesmente ser uma mosca na parede – um cânone que ainda tem muitos adeptos aqui no Brasil.

These films' baroque, satirical, epic or mythic departures from the Griersonian fly-on-the-wall norms of documentary film-making surely help to explain how they got into people's heads and out into the world to bring about social change.

9.10.07

Gatopardo



Lástima que revista tão boa tenha site tão ruim. Me obriga à auto-pirataria de pôr no ar um certo texto meu sobre certos homens que mataram um certo homem. (em espanhol)

Mario Terán Salazar, el hombre que mató al Che, vive en el centro de Santa Cruz de la Sierra, en un pueblo cercano a Santa Cruz de la Sierra y también en Oruro, a 15 horas en coche de Santa Cruz de la Sierra. Administra tierras (en Oruro), es barman del Club de Oficiales (de Santa Cruz) y taxista. A veces usa una peluca.

O ninguna de esas cosas.

Personal Che na Al-Jazeera!

8.10.07

Na Folha

Mas infelizmente só para assinantes. Um trechinho:

"O que conecta o mito Che ao redor do mundo é a idéia de mudança, de insatisfação com o status quo", disse Duarte à Folha. Até em Cuba, onde o culto é parte do sistema? "Lá Che representa um modelo de caráter, o 'novo homem' fruto da revolução, entendida como processo e não como fato datado."

No Manhattan

Personal Che apareceu esse fim de semana no programa do GNT. Destaque para Caio Blinder vestindo uma camisa de Che Guevara.


Che por todos os lados

O 40º aniversário a morte de Che está gerando uma quantidade enorme de notícias. São estréias de filmes, protestos, notícias envolvendo sua morte. Há de tudo um pouco.

Da sessão "já vi antes" tem várias notícias que aparecem agora na imprensa, mas já estavam na matéria publicada pela Piauí em setembro. Dessas, a que acho mais engraçada é o "furo" que revela que Mario Terán, o homem que matou Che, foi operado de catarata por médicos cubanos. Todo mundo – inclusive a imprensa brasileira – embarcou feliz na notícia, um mês depois da Piauí.

Na mesma linha, há a "descoberta", pela AFP, de que a caçada a Che adiantou alguns métodos da Operação Condor, outra coisa que constava da reportagem da Piauí.

Na sessão de curiosidades, secos & molhados, há diversos biscoitos.

• A BBC Brasil fez um "micro-personal-Che" de uns quatro minutos com depoimentos em Moscou, Miami, Londres e Cairo.

• O Senado brasileiro, a pedido do senador José Nery, do PSOL paraense, vai fazer uma sessão em homenagem a Che. Adoraria ver qual será a reação do PFL e outros partidos.

• Fidel deixou o silêncio para lembrar o companheiro de armas, num pequeno editorial no Granma. Numa parte, diz que ele foi como "uma flor arrancada prematuramente de seu talo". Conclui afirmando que "viu e escutou pela televisão" o ato comemorativo comandado por seu irmão, Raúl.

• A EFE (postada na Folha), entrevista Julia Cortez, a professora que diz ter visitado Che na escolinha de La Higuera enquanto o argentino aguardava seu destino. Ninguém avisa aos pobres repórteres que se trata de uma mitômana.

• A Reuters cai na velha história de que Vallegrande e La Higuera lucram com um boom turístico em torno da morte de Che. Pois é. Chegam lá, é longe pra burro, têm que agradar os editores. Na verdade só tem muita gente nos aniversários redondos. Segundo o Granma, esse ano são sete mil.

• Balanços sobre Che. O LA Times acha que ele ainda é vigente. A Reuters, não.

Muita gente quis ver uma cinebiorafia dele na Itália.

• Mais gente ainda quis jogar bosta (termo deles) na redação da Veja, que fez uma já famosa matéria sobre Che.

• Chávez fez uma homenagem. Um partido de ultradireita na Áustria, mais uma apropriação.

• Pra finalizar, Cuba garante que fez a prova de DNA no cadáver. Sim, é de Che.

5.10.07

Prensa Latina

A agência de notícias cubana Prensa Latina deu uma prensa em Personal Che durante o Festival do Rio. Opiniões do autor da reportagem.

Partiendo de la foto de Korda que dio la vuelta al mundo el filme muestra cómo el rostro del guerrillero ha sido utilizado para los más diversos fines por personas que por desconocimiento, desinformación o intereses comerciales o políticos le dan otro sentido.

Los realizadores asumen una actitud provocativa al hacer entrevistas a biógrafos, historiadores, políticos, religiosos, farsantes, ignorantes y también a admiradores que llevan a escenas y situaciones diversas y polémicas.

O texto está aqui.

(Comentário pessoal: espero que a reportagem ajude a levar o filme pro Festival de Havana!)

No Manhattan Connection

Domingo às 11 da noite, com reprises ao longo da segunda-feira, o programa Manhattan Connection, do GNT, vai discutir os 40 anos da morte de Che Guevara. Personal Che – o filme, a obra, a fita-bate-boca – dirá presente. Não percam!

No blog do Merten...

... Há um post sobre Che que despertou uma acalorada discussão nos comentários. Quando dei meu próprio pitaco já eram mais de 70!

Queria aproveitar e agradecer ao próprio Merten, que me fez uma das entrevistas mais inteligentes do festival e acabou falando do filme em três posts distintos!

2.10.07

Ainda o bonequinho

Taí o texto completo!

E também...

Carlos Alberto Mattos também publicou uma versão da resenha do Globo no Críticos.com.br. Trechinho, como de costume:

Ao longo do filme, Che é comparado a Cristo, ao Papa, a Hitler e a califas árabes. O que restou de sua história real foi uma superfície romântica onde cada grupo projeta seus ideais e mitificações. As imagens do guerrilheiro são objeto de legítima devoção religiosa, discussões renhidas e análises por intelectuais como Jorge Castañeda, Paul Berman, David Kunzle, Christopher Hitchens e Oliviero Toscani. De escritores a proletários, a dificuldade é a mesma para definir a natureza do fenômeno.