20.12.06

Ainda na Colômbia

O caderno Eskpe, do El Tiempo, inclui nosso doc na lista dos filmes prontos para estrear em 2007.

8.12.06

Na Colômbia

A revista Semana publica um artigo sobre Personal Che.

30.11.06

No Brasil

O Estadão publica notícula sobre Personal Che.

30.8.06

Dark was the night


...cold was the ground, em Vallegrande, Bolívia. Viagem do Che (claro).

18.8.06

Carro fantasma


No interior da Argentina, caçando o Che.

29.7.06

Gaivotas de Lima



Num porto pesqueiro qualquer com a barriga cheia (como as gaivotas) de peixe cru (mas o meu devidamente cevicheado). Em preto e branco pra homenagear Cartier-Bresson e seus momentos decisivos que tanto questiono (e admiro).

27.7.06

El popular



O Kublai Khan que abençoa as tortas do Café El Popular, em Mexico DF. De quadriculado, canto direito, Jerónimo, nosso diablo guardián (e diretor de fotografia imprevisto).

4.7.06

Malecón


Havana. Fotógrafo avariado por muito rum e charuto tragado.

5.2.06

Mulheres e meninas


Em Miami, na espera para assinar o contrato de Personal Che.

28.1.06

Esgrimistas da palavra

O livro "Duelos no serpentário" reúne 16 polêmicas deliciosas do passado. Mas onde elas andam, hoje?


(Publicada originalmente no Prosa & Verso, O Globo)

O querido leitor não terá se esquecido da última polêmica a aparecer nos jornais, opondo um renomado poeta e um funcionário do Ministério da Cultura. Ferreira Gullar criticou a atuação do governo na cultura, o jornalista Sérgio Sá Leitão (secretário de Políticas Culturais do MinC) o chamou indevidamente de stalinista e armou-se o circo. Entrou cantor, cineasta, o diabo. Mas, convenhamos — já que estamos a falar do mal-falar, espezinhemos também — é um circo pequenininho, de cidade de interior, de um leão só.

A grande polêmica, parruda e longa, com puxões de cabelo de sérias implicações e dedos-no-olho geniais, essa anda sumida. Existe, mas começa prometendo e murcha rápido, depois de uns tapinhas. Por isso é tão delicioso para os instintos azedos ler “Duelos no serpentário”, da G. Ermakoff, onde o editor George Ermakoff e o criador de poemas e de caso Alexei Bueno colecionam polêmicas intelectuais de 1850 a 1950.

A impressão que se tem é que se discutia à farta, semanas, meses, numa época em que tudo era à pena e à chumbo, e sobre qualquer coisa. No tijolo bom de ser arremessado há quase 800 páginas de parnasianos achincalhando simbolistas, senadores respondendo a poetas senis, modernistas devolvendo desaforos, escritores garimpando erros de português no opositor, muitas vezes sem qualquer correção política e sempre com verve.

— O que realmente é empolgante no debate desses caras é que eles tinham uma cultura enorme — conta Bueno. — Tanto que no livro há algumas polêmicas em que simplesmente ignoramos o outro lado, se não era literariamente interessante. Ademais, dá sempre para saber o que o outro disse pelas rebatidas.

O escritor Antônio Fernando Borges, que também entra em pelejas ocasionais (meio a contragosto, diz) concorda, e por razões quase antropológicas:

— O Agripino Grieco (parte de suas críticas a Machado de Assis estão no livro, aliás) é um prazer de ler, porque é culto e engraçadíssimo. Não concordo com 80% do que ele diz, mas é fantástico ver um homem inteligente pensando.

Tome-se como exemplo o boxe entre Carlos de Laet e Camilo Castelo Branco, português que nunca pisou no país no sentido literal, mas sempre fazia questão de fazê-lo no figurado. Em 1879, o último elaborou uma antologia “do contra” de poetas de então, apontando sem dó erros de português, métricas mancas e construções de catálogo. Laet se condoeu e vestiu-se em armas, catando na obra do próprio Castelo Branco uns quantos “houveram” e outras batatadas idênticas às que criticou. O português não se abalou. Escudando-se em gramáticos eméritos, questionou cada um de seus pretensos erros — inclusive os “houveram” — e espinafrou Laet. Para arrematar saiu-se com a seguinte:

“Os senhores escritores brasileiros, que me enviam preleções de linguagem portuguesa, se me quiserem obsequiar dum modo mais significativo e proveitoso, mandem-me um papagaio, uma cutia e alguns frascos de pitanga. Quanto à linguagem, muito obrigado, mas não se incomodem”.

Mas enquanto boa parte dos embates do livro gira, com graça, é certo, em torno de questões longe de prementes, Bueno, Borges e ainda o escritor Silviano Santiago garantem que a peleja é uma cutia em extinção — e que isso é ruim pra vida intelectual.

Idéias em choque, idéias em movimento

Alexei Bueno define o problema de forma simples:

— Falta incômodo, falta base e sobra covardia — define ele, investindo sem qualquer hesitação contra dois polemistas, um popular e outro já canonizado. — O Diogo Mainardi é despreparado, chamar isso que ele faz de polêmica não é sério. O modelo dele, assumidamente, é Paulo Francis, outro despreparado, tido como uma sumidade, quando era um cara com lacunas gritantes de cultura. O tipo de coisa que só cresce como cresceu num país de analfabetos. Tenho recortes guardados se você quiser ver: ele não sabia a diferença entre verso e estrofe! — diz o poeta, soltando adequados rolos de fumaça de cigarrilha pelas ventas.

Antonio Fernando Borges comenta com endereço pensado a existência da “profissão polemista”, gente que só faz isso.

— Polêmica é uma coisa circunstancial. Monteiro Lobato não era polemista, nem José de Alencar, Sílvio Romero, Rui Barbosa ou Mário de Andrade.

Entrando no debate só agora, pelo décimo oitavo parágrafo, o escritor Silviano Santiago comenta a polêmica e, impavidamente, cria uma:

— Nunca houve polêmica no Brasil.

Como?

— Não houve. O que vejo são pessoas arrancando o rabo um do outro. Isso não é polêmica, é mala leche, como dizem os espanhóis. Polêmica para mim são aqueles debates que tiveram Jean-Paul Sartre e Albert Camus. Aquilo teve repercussão no mundo todo. Do debate entre Roland Barthes e Raymond Picard, por exemplo, nasceu o estruturalismo! — se empolga. — Na polêmica tem que haver posições definidas. Na história das idéias no Brasil, as polêmicas têm um papel mínimo.

Seja arranca-rabo ou debate consequente, o fato é que se discutiu entre 1850 e 1950 muita coisa maior que tempos verbais e picuinhas políticas e várias estão em “Serpentário”.

Nas suas críticas pesadas ao poema épico “A confederação dos Tamoios”, de Gonçalves de Magalhães, José de Alencar delineava também para si o que seria o indianismo que praticaria em “Iracema”. Os modernistas se defenderam de Monteiro Lobato (que atacava Anita Malfatti) e, em outro momento, dos neoparnasianos, que não se conformavam com a dianteira clara de Cecília Meirelles num prêmio da Academia Brasileira de Letras, em 1939. Há também duas controvérsias envolvendo Machado de Assis (embora ele tenha se mantido de fora): uma com Sílvio Romero e outra com Agripino Grieco. Ambas moldaram a visão da crítica sobre o autor.

— O que faz o mundo das idéias se mover é o choque delas — garante Alexei.

MUITO BARULHO POR, GERALMENTE, NADA
Polêmicos e marqueteiros movimentos

Várias das polêmicas de “Duelos” opõem movimentos vanguardistas e conservadores. Isso não mudou: movimentos continuam sendo um artifício do polemismo. Pena que geralmente sejam mais propaganda que substância. Dois exemplos: o McOndo, do chileno Alberto Fuguet, e a LPB, Literatura Popular Brasileira, criada e tocada à frente pelo carioca Luis Eduardo Matta.

Em 1996, Fuguet deu à luz o McOndo através de dezenas de artigos pregando o abandono de uma América Latina rural e folclórica, território mágico-realista de García Márquez, Isabel Allende e outros. Em seu lugar, o retrato urgente de uma América Latina feita não da Macondo de García Márquez, mas de “McDonald’s, Macintoshes e condos” (camisinhas). Deu certo: o movimento foi exaustivamente debatido e livros foram exaustivamente vendidos.

A polêmica morreu quando os de fora do McOndo cansaram de repetir (com razão) que a literatura latina sempre foi muito mais que as cândidas erêndiras de García Márquez, os clichês de Vargas Llosa, os banquetes de Isabel Allende. Só se resumia a isso na lista de mais vendidos do “New York Times”, onde Cortázar, Octávio Paz, Borges e outros tinham pouco ibope. Era um problema de mercado, não literário.

A América Latina “realista”, “urgente” que Fuguet parecia querer patentear já estava aí, sem rótulo, sendo escrita, e passava bem. McOndo, a etiqueta, não mudou em nada a literatura. Os livros de Fuguet, Martin Rejtman, Sergio Gómez, Edmundo Paz Soldán, Roberto Bolaño e outros, sim.

Caso parecido — embora ainda sem qualquer livro para defender-se — com o da Literatura Popular Brasileira, criada a uma mão (e ainda em busca de sócios) por Matta. A LPB propõe livros acessíveis, feitos com esmero, destinados ao grande público, “nacionalizando” gêneros estrangeiros como o thriller.

Mas será que num país de Jorge Amado, Paulo Coelho, Rubem Fonseca e Luis Fernando Verissimo podemos dizer que não temos literatura acessível, mais ou menos bem acabada, com um público imenso?

A proposição de Matta se explica quando lemos seus livros: thrillers de espionagem, tramas Hollywood e um ou outro personagem brasileiro. A LPB cria uma lacuna perfeita para os livros de Matta. Marketing básico.

O rame-rame para vender livro seria absolutamente inofensivo se não construísse de forma sutil uma oposição entre intelectuais que lançam mão de “experimentalismos ilegíveis, floreios intelectuais, frases rebuscadas ou engajamento sócio-político”, e Matta, que busca “democratizar a leitura”, como diz um artigo dele próprio no site Digestivo Cultural. Escrever fácil vira, num passe de retórica, dever patriótico.

Na verdade, o grande defeito dessa modalidade de polêmica é que não há muito a dizer sobre elas além de nove parágrafos num suplemento literário. Meio decepcionados, voltamos à poltrona do noticiário de sempre.


A DIFERENÇA ENTRE FÓRMULA e QUÍMICA

‘Thriller’ verde-amarelo de Matta não consegue ser mais do que suas referências

120 horas, de Luis Eduardo
Matta. Editora Planeta, 437
páginas. R$ 37

A Síria tem um programa nuclear desenvolvido em segredo. Tudo corre bem até que um engenheiro decide chantagear o regime, pondo em risco a região. Tudo parece no lugar: aí estão os terroristas, o Oriente Médio, e em breve se acionará uma bomba de tempo para — claro — causar suspense. Para não ficar muito frio, há um drama familiar: um homem busca seu irmão desaparecido. E, já que é um livro brasileiro, esse drama será o de um brasileiro. Algumas reviravoltas e pronto: temos um thriller clássico. Mas algo não funciona.

Luis Eduardo Matta parece ter lido centenas de thrillers. Escreve todo o tempo em montagem paralela, truque clássico. Mas pouco acontece nessas histórias concorrentes até depois da metade do livro. A partir daí, as reviravoltas acontecem com tanta frequência que perdem o impacto. A maioria soa arbitrária, decidida pelo autor, não a consequência de uma lógica que é revelada e surpreende o leitor. Matta também faz descrições precisas de ambientes na Síria e Líbano, mas o leitor teria de ser maníaco por detalhes e ter visitado os lugares (dois defeitos do resenhista) para saber.

O maior problema é de tom: há um descompasso explícito entre a velocidade que os acontecimentos têm, sua narrativa e os diálogos que são travados, muitos em frases de meia página e infinitas orações subordinadas. Gera-se suspense a respeito de quando vem o ponto parágrafo.

Resenhas sobre o livro foram publicadas afirmando que a maior qualidade de “120 horas” é precisamente não ser diferente de similares estrangeiros. Inverdade. Falta o gênio de Forsyth, Le Carré. Sobram seus clichês.

É a diferença entre fórmula e química o que fica explícito no livro de Matta, seu terceiro. O autor capitaneia um movimento chamado Literatura Popular Brasileira. Num de seus manifestos, se pergunta porque não há ainda um thriller verde-amarelo, com autores e mercado nacionais.

Lendo "120 horas" dá para entender.