3.12.08

Algumas coisas aprendidas ou não

Tiros podem não doer se você estiver bem vestido. Esquilos comem nozes, mas também laranjas. Os de pelo preto parecem urubus. Nenhum parece um rato. Todos os policiais mexicanos têm esplêndidos uniformes. Nenhum tem bom caimento, mas penso que é por conta de carnes sobrando. Metade não é confiável, segundo o presidente do país. Políticos pegam aviões para morrer no meio da cidade. Traficantes preferem tiros. Mas também cortam cabeças. Elefantes preferem a estrada e bater de frente com um ônibus. Suecos gostam de elefantes. Ao menos um sueco. Chávez gosta de pintar. E o faz mal. Se é que faz. México, cactos, desertos, sombreros para aguentar o calor. Faz um frio enorme no México. Neva, dizem, mas eu não vi. Em várias cidades só há mulheres, crianças e velhos. Não houve guerra, mas uma espécie de conquista. Por pior que o país vizinho vá, é melhor que aqui. "Longe de Deus, perto dos EUA", disse um. Mexicanos são ruins de teatro (os que eu conheço). O melhor que vi era dirigido por um americano filho de judeus russos que fala pouco espanhol. A música é bruta, esporrenta em todos os sentidos, ou seja: de mau gosto, alegre. Andam muito de carro, até para chegar até a quadra seguinte. As mulheres se maquiam. Muito, em qualquer lugar. Para esperar o metrô, que não demora, senta-se no chão. Há uma fábrica estatal especializada em mastros e bandeiras monumentais. Há muitas pela cidade. No dia da Independência é carnaval. Há muito lixo nas ruas e poucas lixeiras. Há muitas cabeças cortadas, mas quase todas são de traficantes, assim todos continuam continuando. Lê-se jornais: La Jornada para os de esquerda, La Prensa para os qualqueres, Universal pra quem sabe dar descontos, os outros pros que têm bom gosto e melhor bolso. Em Polanco não é México. Em Índios Verdes acaba a linha verde do metrô e realmente há índios verdes. Ao menos dois, dizem. Eu não sei, e não me pareceu importante, já que só são dois em vinte milhões. Sinaliza-se a ré para um amigo com pancadinhas contínuas. Pára-se quando se quer que pare-se o carro. Sorvetes são bons e todos de Michoacán. Grilos são de Oaxaca (diga Oahaca ou te corrigem). Dizem que são bons, mais limpos que camarão. Qual será a graça deles, então? Pimenta, sal, açúcar, chocolate, azeite, milho mofado e flor de abóbora e cogumelos combinam. Qualquer coisa combina com feijão. O ar na saída do metrô é milho frito. Dentro do metrô é quente e cheio de música. Os cegos cantam e usam uma calhazinha para deslizar suas bengalas até o milho frito. Cantam bem. Quase tão alto quanto as mochilas amplificadas cheias de MP3. Lucy in the sky with diamonds esperando o trem (quase não se espera o trem, já disse). Não vi ninguém de sombreiro. Vi muita gente do campo de chapéu – um deles tinha uma cascavel seca e um ralador. Levanta a libido e evita a queda também do cabelo. Cinco estantes de gel para cabelo. Emos mais japoneses que os japoneses. All star, all star, all star. Roupa de listras. Tribos. Todo mundo igual. Preguiça no transporte. Pressa ao acordar. Guey, guey, guey. Poucos gays. Só num bairro chamado Condesa ou na Plaza Insurgentes. Deve ser piada de alguém. Mais mulheres que homens. Cílios postiços. Documentários. Cineteca. Tequila no masculino. Pão ruim. Tortillas azuis. Cabelos azuis. Sombras azuis. Paredes azuis. Paredes laranja. Esquilos equilibrando laranjas. Paredes de todas as cores, de todas as cores das roupas coloridas da sua namorada. Manhã depois da hora da manhã. Entardecer na hora certa. Bueno como alô. Padre como legal. Jitomate como tomate. Tu é tu, usted é muito mais sério. Presupuesto. Por supuesto. Guión. Betabel. De hecho. Así es. A lo mejor. Calderón. Huipile. Que tanto. Órale. "¿?"

Sim, fundamentalmente "¿?", México.

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