É uma pena que Santiago, o novo documentário de João Moreira Salles, esteja sendo visto como um filme certo feito a partir de outro, errado. O projeto – prefiro esse nome, e já explico porque – pode ser muito mais que isso.
Salles gravou o material em 1993. Na ilha de edição, decidiu abandoná-lo. O filme que vemos hoje é um comentário ácido aos procedimentos que adotou então.
Em 1993, o diretor conduziu pesadamente a entrevista. Pedia repetições, gravava imagens de estúdio para ilustrar situações tratadas e em uma vez ao menos não quis dar ouvidos a uma revelação de seu personagem. Pior de tudo, nunca deixou de ser patrão de seu entrevistado, nas próprias palavras.
O filme de hoje é uma forma criativa de substituir a lógica de ontem, da encenação, pela atual: filmar o encontro. Meu problema é com a valoração dessas lógicas. A de ontem, errada. A de hoje, certa. Santiago 2007 corrige o Santiago 1993.
Mas será que em 1993 nos importaria se Salles conduziu as entrevistas, se suas perguntas não fossem ouvidas? Será que não apreciaríamos o poder metafórico das imagens gravadas em estúdio ilustrando a fala de Santiago? Será que alguém notaria que determinado take em que o mordomo fala de suas madonnas era uma repetição? Os três parecem bastante naturais até no filme de hoje, e são vistos um após o outro.
Seria muito mais proveitoso e libertador para nossa cultura de documentário que a situação fosse vista de forma mais transitória: Santiago 1993 seguia cânones de então (já um pouco velhos, é verdade, mas ainda em uso) e Santiago 2007 segue os cânones de hoje.
Porque não montar outro em 2020?
9.9.07
Santiago, obra aberta
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