Não cabe negar que se faz cinema, também, para tratar bem do próprio ego. É por isso que uma crítica como a de Amir Labaki, diretor do É tudo verdade, publicada hoje no jornal Valor, economiza algumas sessões de análise:
"Não se trata de outro documentário biográfico sobre Guevara, mas sim de uma anatomia de seu mito póstumo, numa operação de desmontagem de mitologias contemporâneas. (...) Personal Che se destaca entre as estréias recentes de documentaristas brasileiros e sul-americanos por sua rara ousadia de transcender as fronteiras nacionais. O paroquialismo é um dos grandes grilhões da nossa não-ficção, sob a justificativa, não de todo enganosa, dos evidentes limites orçamentários à produção documental. Eis aqui uma prova de que, na era digital, é possível ousar mais."Sobre esse último ponto: nosso acordo com os produtores não permite revelar o valor de produção do filme, algo que não me incomodaria em absoluto, mas apelando para o inuendo: Personal Che foi filmado em quatro continentes, blablabla, e custou menos de dois DocTVs.
Não somos os únicos a filmar assim, claro. O português Pedro Costa reza na mesma cartilha, o japonês Masahiro Kobayashi também e, em território nacional, há o projeto valente da Pax Filmes de fazer quatro longas por R$ 80 mil. Não há nada a unificar as propostas estéticas além do "vamos fazer". Basta custar pouco? Não. O primeiro pax-filme foi selecionado para Gramado, se isso diz alguma coisa.
Glória ao cinema barato!
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