3.6.09

A paixão de Joana D'arc



Há tempos penso em propor a mi mesmo um programa mínimo de educação em história do cinema. Pois vou usar o blog para me pressionar a romper a preguiça e, sempre que possível, ver um "filme importante" e escrever duas ou três ideias sobre ele aqui sem pesquisar nada e refletindo apenas um pouco. A maior parte dos filmes vem da minha coleção, bastante boa, que por sua vez devo à coleção ótima do cineasta colombiano Rubén Mendoza. Não fosse ele e suas dezenas de Criterion Collections e outros selos, esse projeto seria mais difícil, vizinho do irrealizado.

• • •

A paixão de Joana D'arc, de Carl Theodor Dreyer. Não há outro critério para avaliar a montagem além do da arte. Nada é informativo, tudo obedece um fluxo dos sensos. Consegue transportar o expectador para dentro da ação sem mímese alguma, mas como um livro: há muito espaço para imaginar o fora-de-quadro e expressões apenas suficientes para completar cantos escuros das personagens. Trabalho de casting impecável tanto dos algozes quanto de Joana que, segundo li, era uma atriz teatral mais especializada em comédias. É de uma beleza santa, por vezes, embora os lábios e olhos apontem também uma sensualidade que talvez explique um pouco do carisma da própria Joana como ator histórico. Trabalho de fotografia ousado para a época pelo puco que sei, cheio de tilts e dollies pouco usuais mesmo hoje. Cheiro de cinema sendo descoberto. Teria sido uma pena o filme ter se perdido para sempre, o que quase aconteceu: julgava-se perdido para o fogo há décadas até que em 1985 se encontrou uma cópia num hospício norueguês. Anedota curiosa. Parece muito mais ousado que Vampyr, filme seguinte de Dreyer.

2 comments:

Carlos Alberto Mattos said...

E os closes mais intensos da história do cinema?

Douglas said...

Sim, sim, os closes. O filme É esses closes!