Entrevista DAOUD MIR
(Publicada originalmente no JB)
Daoud Mir é um dos representantes da Aliança do Norte (também chamada de Frente Unida) que tenta costurar em Washington um acordo definitivo com a Casa Branca para depor os talibãs. Segundo contou ao Jornal do Brasil por telefone de Washington, a colaboração já começou: forças especiais estariam estudando o território afegão com a ajuda da Aliança, preparando-se para uma ofensiva terrestre.
-Qual a posição da Aliança do Norte sobre os ataques anglo-americanos ao Afeganistão?
-Nós saudamos esta ação contra os campos terroristas no Afeganistão porque os afegãos são vítimas e reféns desses terroristas. A coalizão internacional começou hoje uma segunda onda de ataques precisos contra instalações militares dos talibãs e de Bin Laden. Estamos prontos para iniciar nossa cooperação em terra também. Nos próximos dias, iniciaremos nossas próprias ofensivas.
-Qual é a situação atual da Aliança? O que falta para o começo de uma ofensiva?
-Estamos prontos para lançar uma ofensiva contra os talibãs e Bin Laden nos próximos dias. É claro que não posso mencionar datas precisas, mas gostaríamos de continuar nossa colaboração em terra com as outras forças.
-O senhor fala em continuar. Isso quer dizer que já existe uma cooperação em terra acontecendo?
-Sim, é claro. A comunidade internacional entendeu que, sem a ajuda da Frente Unida, não conseguirá muita coisa. Os afegãos estão prontos para lutar contra o terrorismo no país porque eles são as primeiras vítimas.
-Russos e americanos prometeram vários graus de apoio. A Aliança já recebeu algo concreto desses dois aliados, seja em armas ou dinheiro?
-Ainda não. Tivemos várias promessas, mas até agora não recebemos nada concreto da Rússia ou de qualquer outro país. Estamos abertos para receber suprimentos militares e lutar.
-Mas, concretamente, o que eles prometeram? Dinheiro, armas...
-Pedimos dinheiro, armas e auxílio tático, mas tudo que conseguimos até agora foi que eles jogassem suprimentos humanitários para o povo do Afeganistão. Eles agora sabem que o povo afegão é contra o terrorismo. Esperamos impacientemente por armas e dinheiro porque poderíamos acabar com isso rapidamente se trabalhássemos juntos.
-Concretamente, há alguma coisa?
-Do ponto de vista prático, nós temos alguns contatos em terra. Forças especiais estão no Afeganistão. Sei disso porque nós, da Aliança, construímos alguns abrigos para eles dentro da área sob nosso controle.
-Forças especiais americanas?
-Sim, americanas e de outro membro da coalizão. A presença ainda é pequena. Mas esperamos que o apoio militar e financeiro chegue logo.
-O senhor estaria autorizado a revelar onde essas forças estão?
-É claro que não posso revelar a localização exata das forças especiais, mas posso dizer que elas estão num lugar seguro sob nosso controle. Controlamos mais de 30% do Afeganistão e construímos um abrigo sólido e seguro para elas poderem estudar conosco o planos para as futuras operações terrestres no país.
-Quais são as articulações para o próximo governo? A Aliança do Norte vai participar da grande assembléia afegã, a Loya Jirga?
-Sim. Este é o ponto mais importante. Nosso povo sempre resolveu seus problemas de maneira extremamente democrática, através desta instância. Assim, convidamos o antigo rei afegão, Zahir Shah, não como um monarca, mas como uma personalidade importante no país, que pode ajudar a elaborar um esquema político justo que incluiria todos os grupos da sociedade afegã.
9.10.01
''Forças especiais estão no Afeganistão''
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