1.4.08

La verité del cinema mentiré

Acabo de assistir a Tigre de papel, documental colombiano de Luis Ospina (mais no post abaixo). O resultado é irregular, há uns 15 minutos de gordura, mas não há porque deixar de saudar com estrondo sua energia. Há o conceito e há a verve. Ospina uniu ambos magistralmente nesse trabalho que mente para admitir, é reflexivo para falar de quase tudo e ri para chorar a morte de tanta coisa que nos parece cara.

Já seria de se louvar o fato de que um latino-americano está entrando no pouco visitado (em que pese Jorge Furtado e seu Ilha das flores) território do falso documentário/fake doc/mockumentary. Seria uma louvação modesta, já que o gênero está aí há boas décadas. Mas Tigre dá seu pulo justamente por ser um documental farsesco sobre um personagem inexistente que é acidamente sincero até a última consequência.

Contextualizo: o filme é sobre Pedro Manrique Figueroa, artista colombiano de segundo escalão, agitador, esquerdista de mil tendências, provocador, idealista. E que nunca existiu. Ou melhor, sempre existiu, pois quem há de dizer que nunca conheceu alguém como ele, ou como facetas dele? Através de Manrique, Ospina fala de uma geração que sonhou e lentamente deixou a cama para dormir algo desconfortavelmente no chão, de gente que quis mudar o mundo e mal conseguiu dar rumo à propria vida. Não à toa, há nexos entre o filme e Utopia e barbárie, que Silvio Tendler apronta para breve e que aborda o mesmo caldo ideológico-cultural dos 60 e seu gradual, dolorido adeus às armas (em sentido amplo, por favor). É o – tardio, dizem alguns – olhar no espelho de uma geração que se propôs coisas superlativas. E tudo isso através de um gênero do documentário que geralmente bordeja a comédia.

Mas o que dizer de um personagem que oferece ao Museu Nacional sua principal obra – ele mesmo – e é recusado? O que dizer de um homem que termina seus dias vendendo má poesia a casais enamorados nas ruas de Bogotá ao lado de um sujeito chamado Pocalucha?

Duríssimas risadas, duríssimo filme, duríssima vida.

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