16.9.08

Bombas na independência

Quatro explosões ontem deixaram até o momento um saldo de oito mortos em Morelia, capital do estado de Michoacán, a oeste da capital mexicana. Os petardos foram detonados no mesmo momento em que o governador do estado, Leonel Godoy, fazia soar o sino que tradicionalmente anuncia o início dos festejos da independência do país. Pelo menos 100 feridos deram entrada nos hospitais locais, cerca de 10 em estado grave, o que pode fazer com que o número de vítimas fatais aumente nas próximas horas.

Duas das detonações aconteceram a uma quadra do palácio de governo na capital michoacana e a terceira logo em frente ao palácio, na praça onde milhares de pessoas comemoravam os festejos do 198º aniversário da independência do país. A quarta aconteceu numa rodovia na saída da cidade.

Há apenas especulações sobre os possíveis autores do atentado, sem precedentes na história recente do México. Ontem o Exército Zapatista de Libertação Nacional, há muitos anos uma organização pacifista, emitiu um comunicado em que anunciava uma inocente conferência internacional para o fim desse ano na capital mexicana e em Chiapas. Os militantes do Exército Popular Revolucionário não divulgaram qualquer comunicado nas últimas horas, e suas ações geralmente se concentram contra instalações industriais, sempre buscando evitar mortes.

Local e data das detonações pode sugerir um contexto político: Morelia recebe esse nome graças a José Maria Morelos, um dos líderes da guerra de independência contra os espanhóis. Além disso, Michoacán é a terra do atual presidente do país, Felipe Calderón. É possível, contudo, que as explosões tenham motivações mais mundanas: o estado também é um dos maiores corredores de tráfico de drogas do país e tem sido palco de enfrentamentos sérios e constantes entre as narcogangues rivais e entre elas e as forças de segurança desde Calderón destacou uma força de 25 mil soldados para combater o crime e deu início a uma estratégia de enfrentamento.

Por seu lado, os traficantes vêm assumindo um perfil mais público: nas últimas semanas chegaram a divulgar enormes faixas de pano em rodovias de grande circulação afirmando que a suposta guerra mexicana aos cartéis de droga seria, na verdade, uma forma escamoteada de favorecer uma determinada gangue – a de "Chapo" Guzmán – em detrimento de outras. Poucos analistas dão crédito a tal afirmação, mas não seria a primeira vez que funcionários do governo colaborariam com os cartéis.

A vinculação das explosões ao tráfico é a principal linha de investigação no momento.

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