Muita gente que acompanha de perto o cinema nacional se surpreendeu com o ótimo desempenho do filme espírita Bezerra de Menezes nos cinemas. Em seu primeiro fim de semana, o filme fez nada desprezíveis 1.059 espectadores por cópia. Coisa de blockbuster de Hollywood. Entretanto, muita gente boa – como o Luiz Carlos Merten, do Estadão, e o Ricardo Calil, em seu blog – manifestaram surpresa. Sinceramente, me espanto é com o espanto.
Desde que o cinema brasileiro leva a pior nas bilheterias – ou seja, desde quase sempre – ouve-se diretores de cinema e produtores repetindo à exaustão de que o filme nacional é um espelho, que o brasileiro só pode se ver na tela do seu próprio cinema. Mas o que acontece quando os próprios diretores e gente de cinema não sabem muito bem o que é esse espelho? Quando, em essência, não conhecem bem a cara que prometem refletir?
A impressão que se tem é que os diretores nunca tiveram uma avó que fosse ao centro espírita curar uma dor nas costas ou uma prima que fosse à mesa branca para afastar um espírito obsessor. Olhando para nossa produção cinematográfica, parece que o Brasil é um país estatístico – com milhões de cristãos – ou mítico – cheio de terreiros de candomblé tradicional. Mesmo o "sincretismo" segue essas bases e ignora as misturas muito mais ricas do "umbando-kardecismo" como me definiu, uma vez, um diretor de centro.
Não é questão de se o filme é bom ou não – e a crítica diz que não. Não vi, e não deve ser mesmo. O tema é bom. E é nosso. Será que todo mundo esqueceu que o maior sucesso de Bergman no Brasil foi Fanny e Alexander?
7.9.08
Surpresos? De verdade?
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