Difícil descrever o que o Rio acaba de fazer consigo mesmo. É quase como uma criança dando um tiro no pé com o revólver do pai. Preferiu eleger mais um político profissional de cabelo pastinha maquinado por uma campanha cara e, nesse ano, especialmente desonesta e por vezes violenta.
Paes teve o apoio de um PT federal que sempre meteu os pés pelas mãos no Rio e deu mais dinheiro para atacar Gabeira que para apoiar seu próprio candidato, Molon. De um PMDB que pretende resolver a segurança no Estado à bala. De aliados que têm milícias ou escravos. De candidatos derrotados no primeiro turno que decidiram perder a memória sobre o próprio passado ou nunca esqueceram que o objetivo é continuar por cima, seja como for.
Teve apoio – e isso é muito importante – da maioria dos cariocas. Que votaram mal de novo e se iludiram, de novo, com uma campanha promesseira. Os anos Garotinho ensinaram nada ou muito pouco. Teve apoio também dos que acharam razoável votar nulo numa eleição que caminha fechar a contagem com uma diferença de menos de 50 mil votos. Só de nulos foram mais de 200 mil.
Teve apoio, porque não dizer, do próprio Gabeira, que permaneceu um tanto elitista – alguém diria utópico, não sei se é o caso – em sua forma de agir. Achou que bastaria ser uma versão municipal de Obama, quando o Rio precisava de gana, de cojones, de alguém que quisesse muito vencer, propor em voz alta, catar voto no subúrbio não só porque isso era necessário para ganhar, mas porque é a parte da cidade que merece mais atenção mesmo. Gabeira afugentou muitos de seus eleitores-padrão com alianças de véspera de eleição que dificilmente se justificam. César Maia mostrou que tem incrível capital político para subtrair votos daqueles a quem apóia.
Gabeira perdeu, basicamente, porque queria governar um Rio que existe na sua cabeça. Ainda não existe a ponte entre o verdadeiro e este. Gabeira não soube que essa seria a primeira obra do seu governo. Mereceu perder tanto quanto Paes não merecia ganhar.
Com a vista nublada de coisas assessórias ou inventadas – tangas, baseados, sungas, inexperiências – os cariocas decidiram que um almofadinha que estudou Direito é mais administrador urbano que um homem que já viu e estudou boa parte das soluções que dezenas cidades no mundo todo deram para seus problemas.
Metade e mais pouco dos cariocas merece o que aconteceu hoje e o que vai se desdobrar pelos próximos quatro anos. Aos outros, uma minoria quase igual à maioria, restará reclamar, um esporte em que os nativos têm muita prática.
Parabéns aos perdedores.
26.10.08
Parabéns aos perdedores
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2 comments:
pra quem nem votou. Vc tá xingando muita gente.
Os cariocas decidiram vírgula!
Tire-me fora dessa, amiguinho...
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